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Quinta-feira, Março 28, 2024

[:pt]OS ANTIGOS ALUNOS DOS SEMINÁRIOS NA IGREJA E NA SOCIEDADE EM PORTUGAL[:]

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Tal como foi referido na nossa publicação de 20 de Setembro último, a UASP aliou-se desde início ao projecto PORTUGAL CATÓLICO. A BELEZA NA DIVERSIDADE, tendo dado o seu contributo para a feitura da obra, através de um texto subordinado ao tema “Os antigos alunos dos seminários na Igreja e na sociedade”, integrado no Capítulo II – A Beleza da Diversidade, composto pelo António Agostinho, vice-presidente da Direcção da UASP, e presidente da Associação dos Antigos Alunos do Seminário de Leiria, que passamos a reproduzir:

O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, por convocação do Papa Paulo III, operou profundas reformas na vida da Igreja, incrementando, mormente, a criação de Seminários como estruturas que, substituindo as antigas escolas, ministrassem melhor formação humana, cristã e intelectual dos seus formandos de modo a responder às novas exigências das comunidades paroquiais e de missionação dos povos.

Neste texto pretendemos fazer uma especial referência aos “antigos alunos” que, tendo frequentado os Seminários, vieram a desistir ou a interromper a formação específica que estavam a receber nessas instituições religiosas, não acedendo à ordenação sacerdotal, como também aqueles que acederam ao sacerdócio ou dele vieram a pedir dispensa.

É que a vulgar designação de “ex-seminaristas” comporta algum sentido negativo que não traduz a riqueza da formação recebida nos Seminários, além de que “ex-seminaristas” são todos aqueles que, por mais ou menos tempo, e tendo ou não recebido o sacerdócio, frequentaram o Seminário.

Antes e depois da implantação da República, em 1910, os Seminários desempenharam um papel importantíssimo em Portugal, substituindo o Estado na formação e educação dos jovens portugueses, geralmente pela incapacidade pública de facilitar o acesso à escola a todos os jovens do país.

Mesmo após a institucionalização do ensino obrigatório e a generalização do ensino público em Portugal, os Seminários Portugueses, diocesanos e religiosos, continuaram a ter um papel importantíssimo na formação humana, cristã e intelectual de milhares de adolescentes e jovens, sobretudo de camadas oriundas de aldeias rurais e das zonas do país mais afastadas dos centros urbanos e, por isso, prejudicados no acesso à cultura e à escola.

As sementes dessa formação dão força ao sentimento de que, apesar das diferenças específicas de cada Seminário, há algo de profundo que se traduz numa identidade própria de vivência de valores humanos e cristãos e de forte intervenção nos mais variados sectores da sociedade civil, política e da actividade económica, social e cultural.

Esse sentimento comum levou a que, em 2008, se realizasse no Santuário de Fátima o Primeiro Congresso dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses que serviu para reflectir, estudar e analisar o papel que os Seminários desempenharam na sociedade portuguesa, sobretudo durante o último século, abrindo perspectivas de profícuo diálogo e interação entre os antigos alunos e as comunidades cristãs em que os mesmos estão inseridos tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais solidária.

O aludido Congresso foi antecedido de recolha de dados estatísticos junto dos seminários portugueses, de entrevistas a antigos alunos e de um inquérito realizado pela Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica Portuguesa, o que tudo nos permitiu concluir que, no decorrer do século XX, foram mais de 100.000 os alunos que frequentaram os Seminários Portugueses (diocesanos e religiosos), tendo acedido ao sacerdócio cerca de 13% dos alunos diocesanos e 9% dos alunos religiosos.

O inquérito realizado pelo CESOP, cujo relatório síntese foi apresentado no Congresso e publicado na obra “Seminários: Da memória à profecia – 1º Congresso de Antigos Alunos”, Santuário de Fátima, 2009, págs. 75 a 93, permitiu concluir que uma grande maioria dos antigos alunos que não acederam ao sacerdócio prosseguiu estudos e obteve, contudo, na sequência, formação académica superior.

Aliando à sua competência e saber a metodologia e organização herdadas da formação recebida nos Seminários, os antigos alunos ocupam e desempenham, ontem como hoje, variados papéis e profissões na sociedade civil, mormente, no ramo educacional como professores nos mais variados graus do ensino; nas empresas, por conta própria ou por conta de outrem; em funções ligadas ao Direito e à Diplomacia (vg. advogados, magistrados, juristas, consultores, diplomatas); na função pública, muitos deles com funções de chefia, nos variados serviços como Finanças, Segurança Social, Administração Central e Local; nos Hospitais, Serviços e Unidades de Saúde; no sector bancário e demais instituições financeiras; em Seguradoras; nas forças militares e policiais; como jornalistas; no campo das artes, letras e cultura; no sector primário da agricultura e, podemos dizê-lo, nos demais sectores da actividade económica.

O campo de intervenção dos antigos alunos não se esgota, contudo, nessas profissões, pois, tendo muitos optado por formação académica específica na área das ciências, que não era propriamente a vocação dos Seminários, mais centrados no ramo das letras, espalham-se em áreas como a medicina, engenharia, arquitectura, informática ou até na investigação científica.

É ainda reconhecida alguma apetência dos antigos alunos pela política, desenvolvendo variados papéis na actividade político-partidária e nos areópagos inerentes ao exercício dessas actividades.

Por fim, muitos são os antigos alunos dos Seminários que, por especial vocação, e tantas vezes de forma abnegada e gratuita, desempenham funções em instituições de filantropia e de solidariedade social, como ainda nas mais diversas fundações, associações de índole social, cultural e recreativa.

No geral, e independentemente das opções feitas após a saída do Seminário, a maioria dos antigos alunos reconhece a importância que os Seminários tiveram na sua formação humana, intelectual, ética e moral, professando-se mais sensíveis às questões inerentes à condição humana com especial enfoque nos mais desfavorecidos.

A Igreja sempre pôde contar com a disponibilidade e colaboração dos antigos alunos dos Seminários na acção pastoral e de missionação, nas obras e instituições de assistência e nas actividades de cariz cultural e social.

Como recomendação feita no Primeiro Congresso dos Antigos Alunos, foi constituída, no ano de 2011, a UASP – União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses, cuja vida e acção pode ser visitada no site www.uasp.pt, e que tem como objectivos:
a) – fomentar a corresponsabilidade eclesial e a participação em projectos que promovam a dignidade humana e os valores evangélicos;
b) – congregar, coordenar e representar junto das entidades eclesiais e dos organismos oficiais, a nível nacional e internacional, as suas associadas;
c) – defender e promover a solidariedade entre as suas associadas no respeito pela identidade de cada uma delas.

Em suma, pela sua formação humana, intelectual, moral e cristã, os antigos alunos dos Seminários constituem uma mais valia para a Igreja e para a sociedade portuguesa, enquanto promotores da dignidade humana, dos valores evangélicos e da qualidade de vida das pessoas mais débeis e desprotegidas.

António Agostinho  

 

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6 thoughts on “[:pt]OS ANTIGOS ALUNOS DOS SEMINÁRIOS NA IGREJA E NA SOCIEDADE EM PORTUGAL[:]

  1. Fui antigo aluno do Seminário, e estou muito agradecido e reconhecido por tudo o que lá recebi e aprendi, ainda hoje me encontro com antigos colegas, apesar de já terem passado mais de 50 anos.
    Gostaria no entanto de dizer que não me revejo na estrutura dogmática da igreja em que assenta a sua base de apoio, pouco ou nada interessados numa reforma profunda que há muito necessita, e que o Papa Francisco tem sido um dos principais obreiros, noentanto reconheço que sozinho tem muita dificuldade em enfrentar os inúmeros lobis instalados principalmente no Vaticano.
    Com consideração e respeito
    Fernando Teixeira

  2. Felicito o António Agostinho pelo rigor e qualidade deste texto relativo aos Seminários e aos seus antigos alunos. Tive o privilégio de frequentar as casas de formação da Província Portuguesa da Ordem Franciscana a quem estou, para sempre, grato e reconhecido. Nunca escondi no meu percurso de vida, familiar, social, espiritual e profissional, já longo, essa graça de Deus. Continuo comprometido e com a alegria de ser franciscano.
    Abraço de Paz e Bem
    Alfredo

  3. Li com todo o interesse o trabalho desenvolvido.
    O saber é sempre uma arma na sociedade e postura do individuo perante os outros. Com o artigo ora dado a conhecer, face à pesquisa do autor, pela forma simples como o expôs, merece os meus parabéns e que prossiga com o trabalho publicado .

    Muito obrigado e, desde já ao meus parabéns ao autor, Att

    Faria Fartaria

  4. Ao caro António Agostinho, um abraço de parabéns não só pelo texto no «Portugal Católico» como sobretudo pelo zelo com que vem agindo em favor do Espírito que animou o primeiro Congresso dos antigos alunos. Abraço, António, do amigo P. Luciano Guerra.

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