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Sexta-feira, Março 29, 2024

A economia de Francisco – 2

«Não podemos continuar do mesmo modo»

É uma das ideias básicas da Mensagem do Papa Francisco aos jovens participantes no Encontro virtual ‘A Economia de Francisco – Os jovens, um pacto para o futuro».

São os jovens quem melhor podem identificar as questões cruciais que nos interpelam no campo da economia e da ecologia. Na base, está a preocupação com a casa: ‘oikos’ e o governo da mesma – «nómos’ /lei, ou seja, como garantir que haja pão para todos e distribuído de maneira justa e equitativa, disso se devendo encarregar a economia; e como cuidar da ‘casa comum’, a irmã terra, para não a explorarmos irresponsavelmente, de que se ocupa a ‘ecologia’. A grande síntese é: economia e ecologia são indissociáveis e interdependentes. Por isso, o actual modelo de desenvolvimento económico, centrado na produção e consumo desenfreado de bens, é uma economia que mata, porque está a exaurir o planeta, a casa comum, sem a qual tudo o mais se esboroa.

Para enfrentar este gravíssimo problema, – que não só exclui cada dia e cada vez mais os pobres, cavando um fosso sempre crescente entre uns poucos a viver na abundância, e multidões lançadas para a miséria e a fome, como também fere mortalmente o planeta em que vivemos, pondo em causa o futuro comum de todos -, «é urgente uma narrativa económica diferente», pois que ‘o actual sistema mundial é insustentável sob diversos pontos de vista e fere a nossa irmã terra, tão gravemente maltratada e espoliada, e, ao mesmo tempo, os mais pobres e os excluídos, que são os primeiros prejudicados e também os primeiros esquecidos». (Citando a ‘Laudato Si’, 61).

Para enfrentar este gravíssimo problema, Francisco convida os jovens a «actuar concretamente nas universidades e cidades em que vivem, no trabalho e no sindicato, nas empresas e nos movimentos, nas oficinas públicas e privadas e fazê-lo com inteligência, empenho e convicção, para que possam chegar ao núcleo, ao coração onde se elaboram e decidem os temas e os paradigmas». (Aqui cita ‘Evangelii Gaudium, 74).

A gravidade da situação, posta ainda mais em evidência pela pandemia Covid, «exige uma tomada de consciência responsável de todos os actores sociais, de todos nós, entre os quais vós jovens tendes um papel único, pois que as consequências das nossas acções e decisões vos afectarão em primeira pessoa. Portanto, não podeis permanecer fora dos locais onde se gera, não digo o vosso futuro, mas o vosso presente. Vós não podeis ficar fora de onde se gera o presente e o futuro. Ou vos empenhais, ou a história passará por cima de vós».

Francisco não podia ser mais explícito e incisivo. A economia não pode ficar só para os grandes pensadores inseridos no actual sistema. Os jovens têm de se implicar e comprometer muito a sério. Ou seja, exige-se nada menos que ‘Uma Nova Cultura’. Não só não há respostas adequadas e inclusivas que respondam à crise, como nos damos conta de que há uma fragmentação nas análises e diagnoses, que acaba por bloquear qualquer possível solução.

«Falta-nos a cultura necessária que permita e estimule a abertura de pontos de vista diferentes, impregnados por um tipo de pensamento, de política, de programas educativos e também de espiritualidade que não se deixe enclausurar por uma única lógica dominante (LS, 11). Porque se é urgente encontrar respostas, é indispensável fazer crescer e apoiar grupos dirigentes, que sejam capazes de elaborar cultura, aviar processos, traçar percursos, alargar horizontes, criar espírito de pertença… Todo o esforço para administrar, cuidar e melhorar a nossa casa comum, se quiser ser significativo, exige que se mudem ‘os estilos de vida’, os modelos de produção e de consumo, as estruturas consolidadas de poder que hoje regem a sociedade». (Aqui cita João Paulo II, na famosa ‘Centesimus annus’, nº 58). Francisco repetiu de maneira especial a urgência de colocar o acento no «aviar processos», insistindo com os jovens para que não esqueçam esta expressão: ‘aviar processos‘, porque, se não forem postos em marcha de verdade, nada se fará de válido. E nada se mudará.

Esta nova cultura faz-nos descobrir que «precisamos de grupos dirigentes comunitários e institucionais que possam tomar conta dos problemas sem ficarem prisioneiros deles e das próprias insatisfações, e assim, desafiarem a submissão – tantas vezes inconsciente – a certas lógicas ideológicas que acabam por justificar e paralisar qualquer acção contra as injustiças. Para tal, baste pensar no que já afirmou Bento XVI: «A fome não depende tanto da escassez material, mas mais da escassez de recursos sociais, sobretudo de natureza institucional. Se fôssemos capazes de resolver isto, teríamos o caminho aberto para o futuro».

Continuaremos, querendo Deus.

Carlos Vaz, ASSASBraga

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