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Quinta-feira, Março 28, 2024

Símbolos do NATAL

Custa-nos a nós, cristãos, ver competir os nossos símbolos mais queridos, com o puro laicismo ou até mesmo paganismo. É certo, e até do ponto de vista dos ensinamentos da Igreja e da fé de cada cristão, que esta espécie de profanação dos símbolos dos nossos fundamentos, nos coloca conjuntamente e individualmente, desafios incríveis. Nós também temos culpa. Não é só o mundo profano que invadiu os nossos domínios colectivos e pessoais do afecto. Fomos nós que nos deixámos invadir pelo brilho da publicidade e das luzes artificiais, das músicas, dos pais natais (e até emprestámos as nossas melodias), deixando de ver a luz do presépio, a estrela que guia e que anuncia a Boa Nova, as canções do anúncio, da adoração e da alegria de uma humanidade resgatada. A nossa celebração do novo, aquilo em que acreditamos, não pode estar em confronto com as celebrações laicas e/ou pagãs, tem de estar dentro de cada um. Competir, é desvirtuar os fundamentos últimos da nossa fé; é definitivamente, ceder.

Só este posicionamento individual e colectivo dos cristãos, pode sobrepor-se à folia gerada à volta de um dos símbolos mais importantes, mais afectivos, mais ternos da nossa fé. A apropriação deste e outros momentos e símbolos dos nossos fundamentos de fé, por todas as estruturas que em muitos casos até os repudiam, se não é sintoma de uma certa esquizofrenia social, então é pura cedência ao individualismo, ao lucro, ao hedonismo e ao materialismo.

Mas nós vivemos e fazemos parte da sociedade que praticamente materializou e regulamentou o Natal. Não estamos fora dela. Fazer uma oposição serrada é como ser levado na enxurrada. Por isso, temos de começar a reverter por dentro de cada um. E as estruturas catequéticas da igreja terão de ser subtis e firmes, e terão de repensar e adequar os métodos para voltarem a colocar no centro do Natal o Menino Deus, a sua Mãe, a promessa e o caminho da redenção da humanidade, o sonho do menino que resgatará a humanidade na ressurreição, o SONHO de DEUS, fazer-Se Homem.

E a simbologia é importante?

Nos programas liceais de Filosofia há uns anos atrás, começava-se com o tema “Mito, Símbolo e razão”. Passa-nos muito despercebida no nosso dia-a-dia a importância desta trilogia. Cumpre lembrar que a espécie humana, que na seta da evolução (como lhe chama T. Chardin) se destacou no sentido da ponta do desenvolvimento, levantou-se do solo com verticalidade, aprendeu a utilizar as mãos, começou a moldar o mundo, a pensar reflexamente, e a comunicar com linguagem evoluída. Quando se reconheceu, reconheceu os outros. E logo logo, foi formulando as quatro grandes perguntas antropológicas, que tem absorvido desde então a humanidade em toda a sua actividade, e assim continuará enquanto existir. As perguntas são:

Quem sou?
De onde vim?
Onde estou?
Para onde vou (o fim último)

Toda a investigação humana, em todos os tempos (matemática, linguística, física, psicologia, biologia, astrofísica, literatura, artes, religião, filosofia,…) apenas e só procura responder a estas perguntas.

No início do pensamento reflexo, cedo a humanidade se defrontou com dois argumentos racionais básicos: o da contingência (somos incapazes de explicar a existência das coisas) e o da causalidade (se as coisas existem, algo teve de lhe dar origem). A consciência da transcendência é desde então inevitável. É intrínseca à própria humanidade. É da sua natureza. Por isso tenho dificuldade em perceber como ao longo dos tempos, sem sucesso, muitos tenham tentado nega-la.

E aprendemos a pensar a partir desta transcendência, a que pomposamente chamámos “mitos”. E integrámo-los tanto na evolução da humanidade que aprendemos a utilizá-los na nossa comunicação. Na linguagem. As nossas palavras estão impregnadas de mitologia, como quem diz, de transcendência. E com elas criámos símbolos, com que escrevermos e que nos permitem comunicar, descrever, raciocinar. Aí temos “Mito, símbolo, razão”. O nosso processo de conhecimento é dualista, só conhecemos por alteridade. O pensamento reflexo só é possível pelo reconhecimento do outro. Só me reconheço se existir o outro.

Então, o símbolo não só é importante, como é imprescindível. Na evolução, na humanidade, na comunicação, na vivência (individual e colectiva)

No Natal confrontam-se neste momento dois símbolos:

. O Cristão, simbolizado na figura do Menino Deus (individualmente), integrado no Presépio (colectivo);

. O pagão ou se quisermos o laico, simbolizado no Pai Natal.

A apropriação laica de um quadro religioso, transcendente e de fé, colocou ao seu serviço a simbologia religiosa, para a generalizar à sociedade não religiosa, que adere ao Natal com mais euforia que os próprios crentes. É o comércio, o lucro, a paganização do sagrado. O próprio feriado religioso do Natal e, hoje, por determinação laica. Os cristãos, socialmente, aderem a esta festa laica e pagã, a este folclore, arrastados pela própria socialização. E não é propriamente o que se pode condenar hoje, atendendo às circunstâncias. Temos é de ter esta consciência bem presente, para que a farra exterior não apague o verdadeiro Natal, que é íntimo, afectivo, de valores, de Fé.

O outro símbolo, o do pai natal, apesar de ser enfeitado e fanfarrado pela Coca Cola, e que tem triunfado sobre o do presépio com o Menino responsável último pelo Natal, benevolentemente, podemos associa-lo (como na Lenda) ao “Santa Clauss” (S. Nicolau) como o símbolo da bondade e solidariedade. Mas atenção que ele não veio nem “vive” na Lapónia. Ele foi Arcebispo de Mira na Turquia, no Século IV.

Por nós, vivamos o nosso verdadeiro símbolo, o do Presépio, com o nosso Menino Deus. Vivamo-lo antes de mais no nosso coração, e alegremo-nos e rejubilemos colectivamente com ELE. É o aniversário do Seu nascimento, o que comemoramos. Se o não comemorarmos no Presépio, então estamos a comemorar o quê? Se ELE não estiver no centro do Presépio, não é um bocado louco estarmos a dar os parabéns a nada?

NATAL É O NASCIMENTO DE CRISTO! Vivamos isso no nosso coração e na nossa Igreja.

Dezembro 2020
Luís Matias, ASDLeiria

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