Loading...

Terça-feira, Junho 03, 2025

Fomos ver a ópera Rock FÁTIMA

Fomos ver a ópera Rock de Filipe Laféria – FÁTIMA.

Já vi outros musicais do Laféria, sempre excelentes, dos quais destaco “Jesus Christ Superstar” e “Piaf”. Mas estes já tinham antecedentes e referenciais musicais que nos fizeram migrar para comparações (o Andrew Lloyd Webber / Tim Rice, no primeiro caso, e as canções da própria Edit Piaf, no segundo).

Confesso que, neste caso, fui para o Politeama com algum cepticismo misturado na espectativa. Primeiro, porque conheço razoavelmente bem a história de Fátima e tive alguma dificuldade em antecipar, mentalmente, como é que se poderia contar esta realidade, transportada para um cenário de palco e traduzida em linguagem musical, ainda por cima no formato rock, sem nenhum referencial. Por outro lado, sabemos que a história de Fátima, se é um fenómeno de adesão massiva de nível mundial, de explicitação de fé, também não é isenta de delatores, de críticas e de maledicências. Por isso, saí expectante e preparei-me também para a eventualidade de, em algum momento, ficar chocado ou melindrado na minha sensibilidade, apesar de ter ouvido e lido críticas muito positivas à obra.

Fomos ver Fátima (ao Politeama), partindo de Fátima (a verdadeira e real), cumprindo três grandes objectivos:
– Ver a peça, apreciar, e matar as dúvidas sobre ela;
– Ajudar uma missão em Moçambique;
– Matar saudades entre amigos com muita estrada feita e com muito sentir em comum.

O móbil, foi um pedido de ajuda vindo da capital moçambicana, de um centro de formação e espiritualidade no bairro de Laulane. Necessitam de reparar a cobertura da instalação e não têm disponibilidade financeira. O que pediram era pouco, o que vai fazer, é muito.

O Padre Simão Pedro, administrador da Consolata em Portugal, e a UASP, deram as mãos e convidaram amigos da UASP que foram acolhidos e usufruíram das instalações de Laulane na sua visita a Moçambique, há dois anos, e organizaram, com a inclusão de outros amigos da Consolata, uma ida de grupo a ver a ópera rock Fátima, a Lisboa. Um autocarro com 54 viajantes, um lanche ajantarado no caminho, e a participação no espectáculo, com a presença também do nosso Bispo de Leiria – Fátima, D. José Ornelas, e do Vigário Geral da Diocese, Pe. Armindo Janeiro (presidente da UASP e também organizador), foram os ingredientes perfeitos para uma grande noite de quarta feira, que com o regresso a Fátima e o retorno a casa só me devolveu à cama pela terceira hora do dia seguinte.

Quanto ao espectáculo, não só desfez o meu cepticismo inicial, como superou qualquer melhor expectativa que pudesse ter. Foi simplesmente fabuloso.

Um elenco de luxo, um profissionalismo brilhante dos actores e da companhia. Uma encenação mais que inesperada: original e rica, no conceito e na realização dele. A história, sem fugir às questões que os delatores de Fátima possam argumentar, é muito original na sua apresentação reflecte a história de Fátima. É um espectáculo verdadeiramente criativo e podemos dizer que, fiel.

Um guarda roupa de época, muito rico; actores muito bem escolhidos para cada personagem e papel; música agradável e adequada para cada cena; a banda sonora não é ao vivo, é reproduzida, com excepção da voz, mas muito bem articulada e colocada; os cenários são digitais, com um excelente trabalho de animação, mas muito bem apresentados e constroem o ambiente por forma a mergulhar os espectadores na história e nos momentos das cenas.  O cenário principal da paisagem da Fátima original, não o reconheci como real (e era possível ser) – O entorno visual não era o próprio da serra de Aire, sobretudo pela exibição de prados verdejantes e extensos que ali não existiriam, e as azinheiras presentes na história de Fátima e na sua paisagem, eram uma criação de design. Talvez tenha sido propositado pelos autores, para irem dando nota aos expectadores de que não estavam ali a fazer uma “fotografia” de Fátima.

A área do palco é controlada em 3 níveis de profundidade na perspectiva, enriquecida com piso móvel em duas posições justapostas (elevação em altura e rotação). A peça abre com o pano de fundo preto, a ser ferido por uma brutal projeção colorida, ocupando toda a área, com o triângulo e símbolos da maçonaria. E em frente, a cantar, o administrador de Ourém, ao tempo das aparições. Posso dizer, por mim, que começa por ser chocante esta abertura, e poderia logo confirmar alguns dos meus preconceitos prévios. Mas não; e asseguro-vos que é o prenúncio para um desenrolar quase apoteótico do espectáculo.

A história, é contada de forma adequada ao tipo de espectáculo, mas consegue ser fiel à que conhecemos. Há apenas uma figura nova, introduzida discretamente e que é transversal a todo o musical, permanentemente cómica, mas com uma mensagem subliminar bem forte e marcante, o “Basófias”, que foi especialmente, e penso que intencionalmente, anunciado no princípio do espectáculo. Ele representa todo o comércio e mundície à volta de Fátima, e sente-se que se estende até hoje.

Sabemos o destino do governador: acabou a vender gravatas em Madrid.
Sabemos o destino dos pastorinhos: é o que a história de Fátima diz.
Sabemos o destino de Fátima: tornou-se um local de Fé e de Esperança para o mundo.
Não sabemos o destino do mundo: A PAZ tarda em chegar ao mundo e ao coração da humanidade.
Sabemos o destino do “Basófias”: continua activo e em crescendo à volta de Fátima.

O Musical deixa claras e directas mensagens fortes:
. De Fé;
. De esperança;
. De perseverança;
. Da Paz, que tarda.

É imperdível ver esta soberba obra.

(Entretanto, outro autocarro está quase esgotado para o mesmo fim, e talvez complete a verba ainda em falta para Laulane)

Luís Matias, ASDLeiria

One thought on “Fomos ver a ópera Rock FÁTIMA

  1. Não pude acompanhar a viagem cultural e solidária organizada pela UASP, porque estava comprometido com outros trabalhos, mas o excelente texto, do Luís Matias, merece também o meu forte aplauso. Tive o privilégio de conhecer Laulane e os missionários da Consolata, em Moçambique, que nos acolheram fraternalmente Assim também me associei e associo a este lindo projecto solidário.
    Abraço amigo e fraterno
    Alfredo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *