O Grupo da UASP (União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses) ficou encantado por poder experienciar juntos a base e a raiz da fé que ao mesmo tempo é a base e a raiz da união das suas comunidades numa só Igreja. A nossa fé como religiosos foi sendo posta à prova na medida em que nos inserimos e procurámos a compreensão dos valores humanos e espirituais enraizados na fé no mesmo Deus.
A reflexão e as experiências do povo de Timor-Leste transportaram o grupo UASP para mais perto do religioso e do espírito missionário ao serviço da fé nas diferentes comunidades que visitámos. A semente da fé é forte e bela e recheada de esperança que ajudará a ultrapassar todas as dificuldades e sofrimentos que ainda perturbam aquele povo-irmão. No meio de muitas vicissitudes, a sua fé mantém-se firme e é fortalecida, mesmo quando não é possível exprimir-se em palavras. Mas é percebida com os olhos da fé pelas congregações religiosas que acompanham o povo, de um modo particular junto dos mais jovens, na esperança de um futuro mais promissor. Estas ajudam a compreender e a formular melhor a fé porque entendem a sua linguagem e o seu coração.
A irmã Cristina Macrino, da comunidade das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, em Memo, Maliana, disse-nos que “o que caracteriza a fé dos timorenses é a dimensão afetiva que o povo possui em relação ao divino e ao religioso. Os timorenses não têm preconceitos em rezar e expressar a sua fé, de uma forma inclinada, de joelhos, de mãos erguidas publicamente, com a convicção de que o que estão a fazer é de facto a expressão sincera do que é muito importante para eles: acreditar em Deus, acreditar no divino, acreditar no que está para além da própria natureza humana. Manifestam-no iniciando sempre com uma oração, em qualquer encontro público, eclesial ou de convívio.”
A fé, especialmente a fé católica, desempenha um papel central na identidade e na vida do povo de Timor-Leste, funcionando como um fator de coesão social e de resistência cultural. A fé é um guia para a tomada de decisões e é transmitida desde a infância através da educação familiar e religiosa. A fé atua como um fator de união e de solidariedade entre os timorenses promovendo a paz, a esperança e a reconciliação. Oferece conforto e força em momentos de incerteza e dificuldade.
Fé e cultura, fé e história estão indissociavelmente ligados em Timor-Leste, desde os anos críticos de opressão. Neste caminho, o elemento da fé foi um baluarte, refúgio e fortaleza. Podemos dizer que a fé em Cristo foi um dos componentes essenciais daquele tempo e que chega até hoje. Os missionários e o clero local apoiaram e ajudaram a população da ilha e hoje 95% declara-se católica.
O problema maior continua a ser a falta de estruturas para a educação religiosa e catequética. Eles são cristãos, mas mantêm o que chamam de cultura: tradições e crenças ancestrais do animismo que misturam com a religiosidade popular. Gostam de danças e de procissões, especialmente as marianas. É interessante ver como eles valorizam o sagrado. No contexto cultural, o sagrado é para eles muito importante porque nada se realiza sem o sagrado e tudo se faz a partir do sagrado, mesmo na vivência da fé católica. Neste sentido, está provado que a vida dos timorenses anda à volta de dois grandes pilares, a fé no divino e a fé na Igreja Católica. Esta uniformidade é partilhada nas grandes celebrações do ano, através de um sagrado difícil de definir, mas que para eles são muito importantes no sentido de purificarem os seus valores, as suas crenças e as ligações familiares.
Hoje em dia, a certidão de batismo é o único e o mais importante documento que possuem. Esse documento é necessário para imprimir outros documentos e para se matricular em escolas e universidades.
A visita do Papa Francisco a Timor-Leste, em 2024, reforçou ainda mais a importância da fé na vida, como “um momento de renovação espiritual e fortalecimento dos laços com a Igreja, e como uma exortação e um encorajamento, para se viver a fé em harmonia com a cultura.
Ir. Inês Vieira
Inês Vieira é freira, da congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, tendo participado na viagem da UASP (União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses) a Timor-Leste, no âmbito do projeto “Por Mares Dantes Navegados”, entre 14 e 28 de julho.