No passado dia 28 de novembro, na casa “Domus Carmeli”, em Fátima, juntaram-se os “NAVEGANTES” que em julho viajaram a Timor-Leste e à Indonésia, na concretização de mais um projeto no âmbito do programa “Por Mares Dantes Navegados”, levado a cabo pela UASP – União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses. São 11 anos a palmilhar mundo (decalcando rotas em que outrora os portugueses foram pioneiros), com propósitos definidos; de vermos mundo, é certo, mas, sobretudo, de estarmos com as comunidades, levar-lhe alguma partilha, mas em troca, regressarmos muito mais ricos de vivências, de sentimentos e de aprendizagem. Não é o conforto que nos move (às vezes bem pelo contrário), mas sim a mundividência, os afetos, aquilo em que acreditamos. Têm sido inesquecíveis e impagáveis as nossas experiências neste âmbito.
E sempre fazemos uma sessão de avaliação da jornada o que, sobre a de Timor, ocorreu neste dia, por coincidência muito especial para aquele jovem país: foi no dia 28 de novembro de 1975, que foi declarada (unilateralmente) a independência de Timor Leste, ou seja, fez neste dia precisamente 50 Anos. A data foi lembrada na nossa sessão de avaliação. Claro que Timor-Leste teve depois um percurso muito sinuoso e sofrido, feito de dor, massacres, resistência, mas sempre com muita confiança no futuro, fundada no patriotismo, no desejo inalienável de liberdade, e na Fé. Após 24 anos de subjugação pela Indonésia, perpetrada por Suarto com o apoio da Austrália e dos EUA, em 20 de maio de 2002, e depois de ser fortemente destruída, finalmente, tomou nas suas mãos as rédeas da sua própria vida. Renasceu como país livre e autónomo, estando fortemente empenhado no progresso do território e das suas gentes. No dizer dos políticos que têm conduzido o país, a coesão e os fundamentos residem nas línguas oficiais, o Tetum e o Português, e na Fé.
O grupo que fez esta maravilhosa e inesquecível experiência, juntou-se ao fim do dia e, após o efusivo, emotivo e ruidoso reencontro destes navegantes que já são família, expresso nos maiores abraços e sorrisos, dirigimo-nos à sala cedida para o efeito. Sentimos a falta de três elementos que estiveram indisponíveis na data, mas que realmente não faltaram, porque se fizeram presentes com a mesma emoção e afeto, nas mensagens que nos remeteram. O nosso inestimável anfitrião, em Timor e agora aqui, o Padre Noé, carmelita descalço, timorense, fez as honras da casa que é sua, embora tenha viajado para o efeito desde Marco de Canavezes onde reside noutra Comunidade.
Iniciámos os trabalhos começando precisamente pela evocação da data especial que ocorria (os 50 anos da declaração da independência de Timor-Leste) e tivemos, entretanto, de interromper, porque a hora anunciada do jantar, no refeitório da comunidade, bateu certeira no relógio. As duas mesas redondas que ocupámos neste espaço partilhado foram palco de mais de uma hora de desfile de gratas recordações, de planos de matar saudades, de recontar as peripécias que partilhámos. Claro que este espírito e este ambiente introduziu muito bem e simplificou a continuação da sessão de avaliação.
Regressados à sala, individualmente, cada um acabou por dizer o dito, o vivido, o óbvio para todos. Recordámos a aventura no seu todo, desde que saímos de Fátima, Lisboa, Istambul, Dempasar (Bali), Timor Indonésio, Oecussi (enclave de Timor-Leste), ilha de Ataúro, e todo o percurso em Timor-Leste. Os encontros, com as pessoas, as comunidades, a história, os locais, a dor, a esperança. As dificuldades que também tivemos (com algumas estradas, transportes, falta de água ou de energia), mas que reconhecemos serem ínfimas e banais no contexto do que vivemos. Fazem parte da experiência que assumimos, no desconhecido da aventura. A avaliação quer dos objetivos da missão (sim, por que é missão o centro e foco da nossa jornada), o conhecimento dos locais (turismo), as culturas que tocamos, a riqueza do contacto com as pessoas e comunidades, aquilo que aprendemos, o que trazemos de experiência para as nossas comunidades e, definitivamente, para as nossas vidas, foi absolutamente fantástica. Declarada, mais uma vez, como uma verdadeira viagem para a vida.
Foi também relevado com muita gratidão e afecto, o inestimável contributo, trabalho e conhecimento do Padre Noé, sem os quais, a nossa missão estaria seguramente comprometida. Ele irmanou-se connosco, e irmanou-nos com Timor. Não esquecemos o gesto, que só irmãos podem cumprir, de nos apresentar à sua família, de nos introduzir nas suas casas e no seu mundo, no que isso tem de mais pessoal e afectivo.
Gratos sempre e para sempre.
E finalizámos, antes do abraço derradeiro deste encontro, que nunca é final, com informação sobre os próximos passos, em abril de 2026, rumo à Turquia, num riquíssimo projecto de percorrer os “Caminhos de S. Paulo”, e também visitar pontos turísticos fundamentais da Turquia clássica e moderna. É um formato diferente do habitual (que retomaremos no ano seguinte no Quénia), mas riquíssimo de mensagem, de história e de cultura.
Luís Matias (ASDL)
