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Sexta-feira, Março 29, 2024

[:pt]Ecos da Guiné: MANGA DI BRANCO! (Ena! tanto branco!) …[:]

[:pt]DSC_2152 (800x535)Arrumadas na prateleira as emoções de Bafatá e arredores (foram 3 batalhões, 13 companhias e alguns pelotões dispersos – todos visitados com alguma assiduidade), registadas num diário, escrito em folhas de bloco, paciente e sucintamente; está amarelecido, tem manchas de água mas o escrito da velha “bic” não borrou… Ainda se lê bem, numa grafia cuidada, na maioria, embora alguns dias, por inércia, enfado ou outra razão qualquer, apresentem hieróglifos apressados, ainda decifráveis com paciência. Pelo menos é um repertório de vivências, umas positivas pela esperança e pela fé, outras de quase desespero pela inutilidade duma vida que se consumia na preguiça, no deixar correr, na desconfiança, na agrura da contrariedade, em ambiente de vício, conversas e discussões porcas e picantes, jogos, bebida e tabaco. Quem não queria deixar-se contaminar… que luta! Que raiva! Que paciência! Abstracção e sublimação!!!

Arrumadas as emoções… encaixotámo-nos o melhor que pudemos para um regresso que, à semelhança da vinda, se imaginava penoso e difícil. Não há história de registo na caminhada, a não ser uns gritos ao motorista: é à esquerda… é à direita. Ei! Pára aí!… Mas porque é que não paraste logo? Alguns procuravam resquícios de paragens conhecidas mas irreconhecíveis, perguntavam por este nome e aquele… mais emoção… mais recordação, mais vivência… até que se deu finalmente com o dístico: AGROMANSOA, cuja paragem estava programada.  Actividade dum português de Almeirim, vizinho do Zola, exploração de manga e seus derivados. A paragem foi regeneradora.

Recebe-nos um dos capatazes da exploração, de catana na mão, (instrumento de trabalho, claro) com a expressão que pareceu ecoar ao longe: “Manga di branco”! (Ena tanto branco)! Surpresa, mas não medo. Um telefonema ao dono, algures em Bissau, sossegou e explicou a razão de ser daquela comitiva. Umas sandes e umas bebidas caíram bem, depois de horas de aperto e velocidade nas estradas da selva. Visitámos e louvámos a iniciativa duma exploração cuidada e próspera.

Rumámos a Bissau. Terminámos mais um dia.

Foi um fim de semana cheio de emoções para quem por ali matou algum do seu tempo, à espera duma ordem que tardava na incerteza duma saída. Foi consolador ver locais pisados e vividos, mas a desilusão é grande dada a decadência das estruturas e abandono político de tanta gente que vegeta na luta duma sobrevivência ainda possível. Salve-se a visita às organizações que, por todo o lado, na saúde e boa educação, no progresso da mentalidade, do bem estar, fazem esforços titânicos para que a população progrida em humanidade e salubridade. Deus seja louvado!

AO (Alferes capelão)

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2 thoughts on “[:pt]Ecos da Guiné: MANGA DI BRANCO! (Ena! tanto branco!) …[:]

  1. Olá, amigos e companheiros….

    …O nosso repórter continua activo a ajudar-nos a recordar, com maior intensidade, uma peregrinação que jamais esqueceremos….
    …Após o almoço com as Irmãs Clarissas, em Gabu, regressámos a Bafatá e daí, com o reforço alimentar e o farnel que tão carinhosa e familiarmente nos prepararam, na Cúria Diocesana, iniciámos o caminho para Bissau conforme relata o cronista, Pe. Artur, alferes capelão.
    Controlados pela polícia de estrangeiros e fronteiras, às portas de Bissau, chegámos bem, graças a Deus, às instalações que nos foram reservadas na Cúria de Bissau. Nessa noite recordei os meus 21 anos, na Escola Prática de Infantaria de Mafra, na recruta do Curso de Oficiais Milicianos, porque também, aqui, dormi no 1º piso de um beliche!….
    Abraço amigo
    Alfredo

  2. (….” Pelo menos é um repertório de vivências, umas positivas pela esperança e pela fé, outras de quase desespero pela inutilidade duma vida que se consumia na preguiça, no deixar correr, na desconfiança, na agrura da contrariedade, em ambiente de vício, conversas e discussões porcas e picantes, jogos, bebida e tabaco. Quem não queria deixar-se contaminar… que luta! Que raiva! Que paciência! Abstracção e sublimação!!!”

    Também este parágrafo me fez recordar a minha inaptidão ao ambiente que fui encontrar em Canchungo, então Teixeira Pinto. Eu um jovem de 21 anos, formado (ou formatado) num ambiente marcadamente moralista de inspiração cristã,com os valores que tinha herdado da minha mãe, do seu tempo de militante da Acção Católica, feito alferes miliciano à pressão e sem o desejar, atirado para o meio castrense que eu pensava constituído por homens virtuosos, mas que no dia a dia se revelavam sem pinta de virtude, numa linguagem e vida depravada! Fiquei escandalizado! Alguns homens casados, outros doutores ou engenheiros,mas o ambiente do bar de oficiais ficava ao nível da taberna da minha aldeia. Como me senti deslocado e isolado!
    O meu diário, em que desabafava, não foi um bloco, foram centenas de páginas das cartas que escrevi para a minha namorada, hoje minha mulher. Bem guardadas, são o reportório dessas memórias, que já tinha esquecido mas que agora visito de vez em quando.
    E foram essas memórias, acordadas 40 anos depois de vividas, que me levaram de novo à Guiné e que me continuam a lembrar que terei que lá voltar!
    Só não sei quando nem como.
    Abraços para todos
    JLF

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