O REENCONTRO DE FÁTIMA
Embora os Estatutos da AAACARMELITAS não imponham uma data concreta para a realização da sua assembleia-geral ordinária, estabelecem que deva ocorrer “até 15 dias antes do domingo de Páscoa”.
Contudo, porque a quase totalidade das assembleias-gerais realizadas ocorreram, de facto, quinze dias antes da Páscoa, os antigos alunos interiorizaram que esse será o dia ideal para a sua realização e alguns organizam-se em função dessa expectativa.
Que me lembre, apenas em duas ocasiões, concretamente em 2018 e neste ano, a data “disponível” para o efeito divergiu. E divergiu não por vontade da direcção mas porque as circunstâncias assim o exigiram.
De facto, a Casa S. Nuno tem tido muita procura nos últimos anos, o que determinou que, com bastante antecedência, ainda em Outubro último, pensássemos que poderíamos realizar a assembleia-geral para 2022, não levada a cabo em 2020 e 2021 por força da pandemia SARS-Cov 2, e providenciámos então a reserva para a data habitual. Só que para essa data já todos os aposentos estavam tomados, o que impôs que escolhêssemos, em alternativa, a data disponível mais próxima.
A assembleia-geral de qualquer organização é fulcral para a vida associativa, pois é aí que se decide o seu futuro e acerta o passado. A deste ano era particularmente importante, pois era também assembleia eleitoral.
Que me lembre, e já participei em mais de três dezenas, nunca uma assembleia da AAACARMELITAS congregou um número tão reduzido de associados. Apenas catorze! Chegaram-nos várias justificações de ausências por distintos e ponderáveis motivos, que aceitamos e não queremos acreditar que a reduzida participação indicie um alheamento voluntário e não circunstancial de outros.
Ainda que com poucos, a assembleia-geral decorreu e a AAACARMELITAS não escorregou para o abismo. Mas quase! Como habitualmente, desde 2008, não apareceu nenhuma lista concorrente. O presidente da direcção já por várias vezes havia manifestado o seu desejo de ceder o lugar a outro que se disponibilize para apresentar novo elenco directivo da sua responsabilidade. Mas nada!
Era ao Presidente da Assembleia-Geral, o Vilela de Araújo, que cabia solucionar o problema da sucessão ou continuidade da AAACARMELITAS, e fez por isso em momentos anteriores à realização da assembleia e no seu decurso, realizando aturadas diligências que acabaram por ser profícuas. Mas não foi apenas em razão delas que reverti a decisão de abandono imediato de funções directivas, que não de colaboração com quem se decidisse avançar. Outras houve.
Previamente à assembleia-geral e pela constatação junto da recepção do hotel que as inscrições eram reduzidas e que os potenciais participantes na assembleia eram todos mais idosos que eu próprio, o que haveria de se confirmar, levou-me a meditar sobre o assunto pelos caminhos da Via Sacra, rumo à Capela dos Húngaros, onde não cheguei por manifesta falta de tempo, mas também porque a decisão surgiu a meio do caminho.
Eram vários os grupos penitentes que percorriam aquela via sufragando a alma. Um deles, composto por gente muito jovem, fazia o percurso, entre cada uma das estações, cantando com o apoio de uma viola. Outros caminhavam sós, como eu. Porque o tempo era escasso, o tempo é sempre escasso, apenas me detinha em frente de cada cena da Via Crucis para fazer uma respeitosa vénia, percorrendo o trilho em silêncio buscando alternativa a uma decisão prévia já tomada há alguns meses. E à sétima estação, detive-me e decidi que continuaria mais um ano, mas não um triénio, dando assim um espaço temporal para que cada antigo aluno reflicta sobre o assunto e decida se não será este o tempo de, de uma forma activa, agradecer o bem que o seminário lhes fez e que o sacrifício daqueles que tanto o ajudaram não foi em vão! É que, assim, evitar-se-ia, no fundo, uma espécie de eutanásia da qual sairia como responsável máximo de tão hediondo fim. Daqui por um ano estarei já liberto de tal peso, sendo então uma decisão partilhada por todos aqueles a quem este texto chegue. Se houver abandono, será então colectivo!
Reconfortado com a decisão, o caminho de regresso foi mais ligeiro para o espírito, desfrutando do ambiente primaveril que me circundava, ainda que austero como o sugeriam os rostos dos caminhantes. Num ápice, e já sem o desconforto da dúvida, saltei, saltei mesmo, acreditem, o muro divisório que ladeia a via e colectei umas flores campestres que fixei na lapela e, assim enfeitado, dirigi-me para a assembleia.
Previamente à sessão deliberativa, nas escadas de acesso à sala que nos foi atribuída para o efeito, mais uma vez, o Presidente da Assembleia, encorajou-me a não deixar cair a associação naquele dia. Porque a decisão já havia sido tomada momentos antes transmiti-lhe que ficaria mais um ano, no caso de ausência de candidaturas, ficando assim adiada a assembleia-geral em curso. E, de facto, ficaria um vazio não fora a decisão de continuar mais algum tempo, no que fui secundado pelos restantes elementos da direcção, todos presentes, diga-se! Espera-se agora que cada um dos outros elementos dos órgãos sociais não presentes, aceite continuar nas respectivas funções. Pelo menos temos já como certo o actual Presidente do Conselho Fiscal, o Vaz Alves que, uns dias antes da assembleia, me contactou para comunicar a sua indisponibilidade para estar presente, mas completamente disponível para qualquer função que lhe fosse destinada, excepto a de presidente da direcção.
É de realçar que além da garantia de continuidade por mais um ano, foi encontrada uma fórmula para que o grupo coral “Flos Carmeli” ressuscitasse. Ficou assente em três pilares. O Amaro Alves para “Ductor”, o Cândido Couto para as teclas e o Agostinho Coelho como organizador da papelada e solista. E, ouviu-se proclamar, que “aqueles velhos” até fizeram uma grande exibição na missa que assinalou o encontro! Mas houve ensaio prévio muito motivador, diga-se!
Quanto ao mais, fizemos o que pudemos nos moldes habituais! Não faltou a parte cultural com a exibição do filme “Manhã Submersa”, aberto também aos acompanhantes dos antigos alunos, a que nem todos assistiram. Contudo, ouviu-se dizer que, de alguma forma, também passaram por aquilo, mas com um pouco mais de alegria e menos “austeridade”!
Pena foi a mudança da hora que não nos permitiu um tempo de debate. Que o tema pedia, lá isso pedia!
Américo Lino Vinhais
Presidente da Direção Interino
Gostei muito do texto.Que apesar de reflectir uma situação de “desepero”do Presidente da Direcção quer pela falta de companheiros,quer pela falta de assumpção de responsabilidades na continuação da Direcção por novos companheitos/associados,manifesta um espírito de sacrifício e entrega à causa ao não deixar a Associação sem Direcção e assumir pelo menos mais um ano.Merece pois o nosso aplauso e Parabéns o Presidente “Interino”
Grande Abraço deste ex aluno Combonisno Sebastião Morgado(pode publicar)