“A reclamação não era comigo mas a irritação enchia a sala de espera. O homem protestava contra a exigência de tantos documentos para tratar o
assunto que ali o levava. “Tantos papéis para quê? É como a hipotenusa! Obrigaram-nos na escola a aprender o quadrado da hipotenusa para quê? O
que é que eu faço agora com o quadrado da hipotenusa?” Ia sugerir-lhe que o guardasse na gaveta onde está a raiz quadrada, mas contive-me a tempo,
não fosse atirar-me com o quadrado dos catetos.
Assim é. Enchemos a vida e a religião, se não com papéis, com mil e uma coisas a que nunca vemos utilidade. Felizmente cada ano chega a Quares
ma que nos leva, não digo a arrumar o quadrado da hipotenusa, mas a agarrar o essencial. Lava-nos e emagrece-nos de inutilidades e desperdícios,
pois bem sabemos que é tempo de jejum e penitência.
Cada ano, três gestos nos orientam como coordenadas de GPS, para não
nos perdermos no caminho (…)”. Editorial, por Pe. Aristides Torres Neiva, in ação missionária