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Quinta-feira, Março 28, 2024

A  conversão ecológica, por Alfredo Monteiro

…E o grito da Natureza ouviu-se; forte, muito forte! E os povos sentiram as suas dramáticas e dolorosas consequências. Vilas e aldeias foram varridas pelos ventos ciclónicos e afogadas nas águas sujas das enxurradas. Muitos mortos e desaparecidos, enormes prejuízos materiais. Estes fenómenos inesperados aconteceram, neste verão, em países europeus! E, nos Estados Unidos e Canadá, o calor infernal com incêndios devastadores. Os cientistas tinham avisado que os sinais da Vida da Terra estavam a piorar e continuam!…

A Terra, Casa Comum da Humanidade, reclama que, principalmente, as nações mais ricas mudem o seu estilo de vida, façam a sua “conversão ecológica”. Todos somos responsáveis pelas agressões que, diariamente, sofre o Mar e a Terra. Escutemos o Papa Francisco que, incansavelmente, exorta o povo e os governos das nações a cuidar da Criação. A educação ambiental deve começar nas famílias, continuar na Escola e na catequese das paróquias. Ensinemos às crianças, com o nosso exemplo, como se pratica a reciclagem… Só assim podemos contemplar, saudar e cantar, como Francisco de Assis, as belezas naturais, agradecendo ao Criador tantas maravilhas! A reconciliação com a Natureza é dever de todos nós, principalmente dos cristãos, para tanto, temos, como guia, a encíclica “Laudato Si”.

Li que o “Movimento Católico Global pelo Clima”, nascido em 2015, anunciou a mudança para “Movimento Laudato Si”, assumindo que se inspirou na Encíclica ecológica e social, face à sua visão integral, mais ampla que, apenas, a crise climática. Esta iniciativa congrega mais de 750 organizações e milhões de “animadores Laudato Si” de todos os continentes. O Papa Francisco, aquando do Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores (OFM), realizado em Roma no mês passado, em que foi eleito o novo Ministro Geral, Frei Maximo Geovani Fusarelli, exortou os franciscanos a preocuparem-se, como Francisco de Assis, com a Natureza que sofre e abraçassem os excluídos, “porque o enriquecimento de poucos levou à miséria de muitos”. A espiritualidade franciscana conduz-nos à contemplação da beleza e da grandeza do Universo com a vastidão imensa de seres vivos. Francisco fala de Deus entre os homens e entre todas as criaturas! Viveu e morreu a louvar, a cantar e a saudar a todos…

O conhecido teólogo franciscano, Leonardo Boff, citado nas “Florinhas de São Francisco-Evangelho e Poesia”, de Frei David Azevedo, conta-nos, no seu livro, ”Francisco de Assis: Ternura e Vigor”, uma lenda encantadora que, pela sua beleza poética e espiritual, vou transcrever: “Certo dia, Francisco surpreendeu-se a si mesmo muito alegre. Começava a degostar Deus em todas as coisas. Passou por um pessegueiro e disse: Pessegueiro, meu irmão, fale-me de Deus! E o pessegueiro estremeceu como sacudido por uma brisa leve e cobriu-se de flores, como nele tivesse irrompido a primavera. (…) Passou por um ribeirinho e disse-lhe embriagado de alegria: Ribeirinho, meu irmão, fale-me de Deus! E as águas começaram a borbulhar como se quisessem falar. (…) Um pouco além encontrou, poisados num fio, um bando de passarinhos: Passarinhos, meus irmãos, falem-me de Deus! E os passarinhos começaram a piar e a repiar uma melodia que jamais se ouvira naquela região. Francisco seguiu cantarolando de alegria exuberante. Encontrou um homem com mochila às costas e disse-lhe: Meu irmãozinho, fale-me de Deus! O homem pegou-lhe na mão, levou-o a uma praça e ali fez uma cena linda de partir e repartir o pão com outros homens. Francisco não se continha de tanta alegria ao encontrar a Deus no partir do pão e nos irmãos pobres”. Transcrita esta lenda de encantar, o autor das “Florinhas”, conclui que “É preciso pôr todas as criaturas a falar de Deus”… Se assim acontecesse, o meio ambiente era saudável, mais confortável…

Mas, se continuarmos malcomportados, a provocar a Natureza, teremos, novamente, a resposta dos fenómenos extremos, dos desastres naturais, como aconteceu, estranhamente, na Alemanha, Bélgica, Itália e, recentemente, noutras paragens! Há milhares e milhares de espécies em vias de extinção e podem suceder graves transformações na vida da Terra. O aniquilamento da vida selvagem é uma ameaça à nossa civilização. Como seria desolador para os vindouros herdarem o Planeta como inimigo! Mas, felizmente, os jovens já reagiram pela voz da activista Greta que iniciou uma greve às aulas para se colocar, em protesto, junto ao Parlamento Sueco. Daí emergiram vários movimentos juvenis, em muitas partes do mundo, exigindo aos governantes um novo relacionamento com a Natureza ainda a tempo de salvar o Planeta, porque foi a acção humana que alterou a face da Terra!

Alfredo Monteiro (AAAFranciscanos)

3 thoughts on “A  conversão ecológica, por Alfredo Monteiro

  1. Estejam nossos ouvidos e olhos a esta grande lição. Que esperamos nós, meus irmãos, depois destas maravilhosas lições que são uma autêntica mensagem do Criador!

  2. Depois de reflectir um pouco na mensagem que acabei de ler e tendo em conta os exemplos vivos de S. Francisco de Assis e do nosso Papa Francisco, como agricultor sénior, a passar férias nas minhas aldeias predilectas – Midões e Vale de Espinho-Argeriz-Valpaços, onde me refugio das ameaças Covid-19 e tenho gozado longas semanas e até meses em contacto directo com a Natureza, longe do ambiente urbano da Área Metropolitana de Lisboa, venho fazer o seguinte convite: Como estamos em em pleno verão e não tem havido incêndios nestas paragens, porque não redescobrir este Reino Maravilhoso de Trás-os-Montes e ver como os campos cultivados e as nossas florestas são tão belos! Em Julho de 2020 estas paragens também foram devastadas por uma tempestade de granizo que tudo nos levou. Mas este ano, apesar da muita erva que invadiu as culturas e os pomares, o nosso olhar fica extasiado com a beleza, qualidade e abundância dos frutos que, infelizmente, acabarão por cair ao chão antes de saciar o apetite de quem deles necessita. Porque é que nestes tempos difíceis que atravessamos não vêm até nós os seguidores de S. Francisco para depois poderem acrescentar mais uns parágrafos à sublime lenda antes referida? E que avaliação ou comentário farão se tomarem o gosto aos nossos produtos e cativarem depois alguém a vir ate nós apreciá-los também? Porém, como os consumidores e as cadeias de distribuição alimentar privilegiam as grandes superfícies em vez de virem directamente junto dos produtores, as aldeias do Interior do País estão cada vez mais desertas e os seus férteis campos desaproveitados. Se a tendência assim continuar o tão aprazível meio ambiente natural também irá degradar-se. Que S. Francisco nos valha!

  3. Gostei da mensagem do Alfredo e do complemento do Moutinho.Muitas verdades misturadas com algumas utopias e muitas incertezas. Claro que sem utopias não progredimos e sem incertezas morreríamos de tédio.Temos, porém, que relativizar o “bem e o mal” que vamos enfrentando no mundo à luz do que sabemos do evoluir do nosso belo planeta e do universo em que se move. Já vivemos em cavernas, os dinossauros foram-se, os mares dividiram-se e novas terras se formaram sem que o homem tenha metido qualquer prego ou estopa no assunto. Quem pode afirmar que o homem e o universo já chegaram ” ao fim da picada”? Será que o “devir” chegou até nós e…cansou.se? Acho que deveríamos ser mais humildes, à semelhança dos “Franciscos”, quanto à nossa capacidade para intervir nos ” desígnios” de Deus.

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