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Sexta-feira, Março 29, 2024

Cumprir o Concílio…

No II Concílio do Vaticano foi possível avançar muito na compreensão que a Igreja tem de si mesma, dando origem a novas formas de vida e organização. Contudo, as mudanças efectuadas estão ainda aquém do esperado, pois as mentalidades não mudam por decreto…

De facto, o documento de trabalho sobre a Igreja – que haveria de chamar-se Lumen Gentium: “Luz das nações” , reservava o primeiro capítulo para falar da Hierarquia, sobretudo dos bispos. Mas, a reflexão conciliar e as muitas propostas de emenda fizeram com que este capítulo passasse de primeiro a terceiro e fosse antecedido por mais dois capítulos, o segundo sobre “o Povo de Deus” e primeiro sobre “o mistério da Igreja”.

Com o processo sinodal em curso, o Papa Francisco não só dá mais um passo no sentido de pôr em prática as decisões conciliares como também faz evoluir a compreensão das questões que estiveram em debate no próprio Concílio.

A dupla revolução conciliar (do segundo e do primeiro capítulos), no que há concepção da Igreja diz respeito, que antepôs à distinção de ministérios (hierarquia) e carismas a radical igualdade de todo os fiéis cujo fundamento se encontra no convite universal à comunhão e participação na vida íntima de Deus como filhos adoptivos, precisa de uma melhor tradução prática que cumpra o espirito conciliar e expresse adequadamente a dignidade e a corresponsabilidade de todos os baptizados na missão da Igreja.

Francisco ao pedir que se oiça, na primeira fase da caminhada sinodal, o Povo de Deus, mostra que dá importância ao sentir/intuição da fé de todos fiéis e põe em revisão a velha perspectiva eclesiástica segundo a qual na Igreja há os que ensinam e os que aprendem. De facto, uma vez que o Espírito Santo é concedido a todo o Povo Santo de Deus, também ele pode ensinar…

Na segunda fase da caminhada sinodal, o Papa quer também um maior envolvimento dos seus irmãos bispos no processo de discernimento, convidando-os a trabalhar no estudo das questões que se colocam às grandes regiões do Mundo (continentes) onde exercem o seu ministério. Deste modo, se valoriza o papel das conferências episcopais como instâncias intermédias da colegialidade episcopal (Evangelii Gaudium 16).

A terceira fase da caminhada sinal reunirá, em Roma (2023), a Assembleia Sinodal dos Bispos. No discurso por ocasião da celebração dos cinquenta anos da instituição do Sínodo dos Bispos, Francisco articulou os princípios da presidência (ministério petrino) com o da colegialidade (ministério episcopal), recuperando a tradição eclesial do primeiro milénio.

Eis as suas palavras inspiradoras: “O Papa não está, sozinho, acima da Igreja; mas, dentro dela, como baptizado entre baptizados e, dentro do Colégio Episcopal, como bispo entre os bispos, chamado simultaneamente – como sucessor do apóstolo Pedro – a guiar a Igreja de Roma que preside no amor a todas as Igrejas”.

E continua: “mas nesta Igreja, como numa pirâmide invertida, o vértice encontra-se abaixo da base. Por isso, aqueles que exercem a autoridade chamam-se ‘ministros’, porque, segundo o significado original da palavra, são os menores no meio de todos. (…) E, num tal horizonte, o sucessor de Pedro nada mais é do que servo dos servos de Deus”.

P. Armindo Janeiro

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