Em vista do seu regular funcionamento, a UASP – União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses reuniu em assembleia-geral de primavera, no pretérito sábado, dia 18 de fevereiro, no Seminário Maior de Coimbra, uma belíssima construção de meados do séc. XVIII, projetada pela arte de dois arquitetos italianos, situada quase paredes meias com o Jardim Botânico da cidade. Trata-se de um espaço que está a ser requalificado e é, sem dúvida, um dos edifícios mais belos da cidade dos doutores e, portanto, digno de uma visita. Está a ser objeto de obras de requalificação ainda que não esteja, neste momento, a cumprir a função para que foi criado. Uma boa escolha!
Ali se decidiu pela aprovação da ata da assembleia geral anterior, se aprovaram as contas do exercício de 2022 e aprofundou o Plano de Atividades para o ano em curso, que inclui dois projetos relevantes, de natureza diferente.
De facto, o seu Presidente da Direção elencou a motivação e os propósitos de mais uma etapa do projeto “Por Mares Dantes Navegados”, a sexta, que será a mais longa e mais completa etapa das já realizadas, e que, desta feita, levará alguns antigos alunos dos seminários a Moçambique, designadamente a Tete, Gorongosa, Inhambane e Maputo, com a preciosa colaboração de algumas instituições religiosas (Consolata, Jesuítas, Salesianos) bem implantadas naquele país, com o fito de tomar conhecimento do trabalho missionário e pastoral ali levado a cabo, mas também compreender a importância do Catequista na ação evangelizadora das comunidades locais. É certo que o anúncio da Fé está ali sujeito às condicionantes sociais e políticas da região, o que realça a importância da expedição.
Juntamente com os objetivos evangelizadores, espera-se poder levar algum conforto material às comunidades a visitar, para o que já se realizaram algumas ações de angariação de fundos e, espera-se, realizar outras.
A jornada inclui também um tempo para conhecer as regiões visitadas. É assim que se projeta visitar o Parque Nacional da Gorongosa e a barragem de Cahora Bassa, ainda que nem todos os percursos e locais a visitar estejam definidos com rigor.
Está praticamente lotada a dotação dos lugares previstos mas, havendo interessados na participação, o mais sensato será consultar a UASP.
O outro dos projetos relevantes delineados para 2023, concretamente para oito e nove de julho, tem a ver com as Jornadas Culturais, habitualmente realizadas com a periodicidade anual, mas que, por imposição da pandemia SARS-CoV 2, não se realizam desde 2019. A incumbência havia recaído sobre os antigos alunos Combonianos e ainda se mantém. Contudo, porque a passagem do tempo acarreta algumas mossas, o organizador inicial após queixas fundadas de saúde, que já não é o que era, será agora coadjuvado pelo Luís Matias, da AAA do seminário de Leiria. E delinearam já o programa que terá os Mosteiros de Singeverga e de Santa Escolástica de Roriz como locais definidos para o descanso, mas também para algumas visitas temáticas. O conjunto do programa tem as cidades de Santo Tirso e de Guimarães como centros de atenção, prevendo-se que no centro cívico da Cidade Berço decorra, à noite, um sarau musical ao ar livre com a particularidade de circulação de um chapéu, à boa maneira dos artistas de rua, pois prevê-se que a zona seja muito concorrida, como é habitual nas cálidas noites estivais, e assim poder-se-á reforçar o contributo material para levar a Moçambique.
Decidiu-se que, em breve, circularia informação mais pormenorizada do evento para avaliar o número de pessoas que estarão disponíveis para participar e, assim, se poder afinar a logística.
Já na parte final da assembleia ainda se refletiu sobre o local da próxima Etapa, a VII, do projeto “Por Mares Dantes Navegados”. Timor, Macau, Goa? Que a ideia amadureça, que ainda há tempo! Foi também levantada, e mais uma vez, a questão do alargamento da UASP a outras associações de antigos alunos, com a proposta concreta de alguém da UASP se introduzir, mediante acordo prévio, nas assembleias-gerais de outras associações que ainda mexem, mas alheias aos propósitos da UASP, onde se divulgaria a Associação. Foi louvada a ideia, mas esse trabalho, tem já caminho feito, embora nula de resultados palpáveis, o que não se estranha muito, face à idade daqueles que integram as associações de antigos seminaristas, genericamente acima dos setenta anos.
Finalmente, não deixou de se refletir sobre o atual momento da vida social que tem tido como enfoque a Igreja Católica por via dos abusos de menores perpetrados por alguns dos seus membros e da consequente e recente publicação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, “Dar Voz ao Silêncio”, para o efeito constituída por iniciativa da própria Igreja. Foi manifesto que a UASP comunga com o sentimento geral de repulsa e incómodo por tamanho desrespeito, em primeiro lugar pelo semelhante, ainda indefeso e em desenvolvimento e, em segundo lugar, pela colisão frontal com o Sexto Mandamento do Decálogo, donde resultou um enorme prejuízo moral, espiritual e da fiabilidade da mensagem da Igreja. Comunga assim a UASP da posição do próprio Papa Francisco que assume que os abusos “são contra a própria natureza sacerdotal e também contra a própria natureza social. Por isso, é uma coisa trágica e não devemos parar”. Sintoniza também com D. José Ornelas, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, quando este assume “É uma ferida aberta que nos dói e envergonha”.
Contudo, ainda que as críticas tenham escopo e desenhadas “intra et extra muros”, nem todas visam a reparação dos danos. Algumas tentam, isso sim, aprofundá-los atingindo toda uma instituição secular na sua essência e validade da sua mensagem. Multiplicam-se mesas redondas, painéis de comentadores e não se vislumbra um sentimento de fazer justiça global quanto à atuação da Igreja. Há que punir, sem dúvida, os comportamentos desviantes de quem agiu ou omitiu, mas faça-se justiça quanto à atuação global da Igreja, por exemplo enaltecendo a sua conduta na instituição e manutenção dos seminários, em todo o século passado. Beneficiaram imenso o País, no seu todo, comentadores incluídos, ao criar ou manter todo um sistema que permitiu que os mais pobres tivessem educação. De facto, foi a Igreja Católica que, não obstante os abusos cometidos sobre alguns, conduziu dezenas de milhares de seminaristas a uma educação que não teriam. Está assim em falta uma comissão independente que apure o papel da Igreja Católica no desenvolvimento do País e no bem estar social cuja matriz advém da doutrina social da Igreja que tarda em ser aplicada pelos sucessivos governos. Por outro lado, que se aplique, com rigor, o Código Penal Português e o Direito Canónico em toda a sua extensão e rigor.
Não se trata de gizar um qualquer salvatério para a atuação desastrosa de alguns dos seus membros, mas de calibrar acontecimentos.
É bom que se conclua que, não obstante estes infelizes, hediondos e funestos comportamentos de alguns, a Igreja, no seu todo, continuará a difundir a sua mensagem de amor ao próximo e a Cristo, assente nos princípios da dignidade da pessoa humana, do bem comum, da subsidiariedade e da solidariedade.
Américo Lino Vinhais
Gabinete de Comunicação da UASP
Caros amigos e companheiros, saudações cordiais
Na impossibilidade de participar presencialmente, como desejava, na Assembleia em referência, procurei obter, depois, informações sobre o desenvolvimento da Ordem de Trabalhos previamente conhecida. Já havia ficado satisfeito com o relato feito, mas, depois de ler o texto do cronista da UASP, Américo Vinhais, já não lamento tanto a minha ausência! Literariamente bem escrito, como é habitual, cuja substância e avaliação feita a alguns assuntos actuais de elevada delicadeza e susceptibilidade subscrevo inteiramente.
Abraço franciscano de Paz e Bem
Alfredo