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Domingo, Outubro 13, 2024

Na Eucaristia, todos celebramos!

As duas denominações mais antigas – “Ceia do Senhor” (1Cor 11,23-25) e “fracção do pão” (Act 2,42) – indicam-nos que a Eucaristia é uma refeição que brota da iniciativa livre e gratuita de Jesus. Fruto da sua entrega sobre a Cruz, foi por Ele ardentemente desejada (Lc 22,15) para dar a conhecer aos discípulos (e a nós) os seus mais íntimos e sublimes sentimentos e (n)os introduzir na comunhão com o Pai e o Espírito Santo.

Tendo em conta o culto sacrificial do Antigo Testamento e o sacerdócio que o servia, é evidente que Jesus estabeleceu uma ruptura, substituindo aquele rito por um novo que realça expressivamente a doação por amor.

Deste modo, Jesus declarou a novidade absoluta da relação que Deus quis estabelecer connosco e que nós devemos desenvolver reciprocamente; com a participação na Eucaristia, o cristão aprende a tornar-se promotor da fraternidade e da solidariedade, da justiça e da paz, em todas as circunstâncias da vida.

Neste contexto e para manifestar mais perfeitamente o sinal de banquete eucarístico, o Concílio (SC 55) recomendou a comunhão sob as duas espécies (pão e vinho), tal como a tradição bíblica no-lo atesta. Contudo, questões práticas fazem com que a distribuição do sacramento em grandes assembleias esteja reduzida ao sinal do pão e a comunhão sob as duas espécies seja reservada aos ministros ordenados e a momentos especiais, tais como o baptismo dos catecúmenos e a emissão de votos religiosos…

Desta visão do II Concílio do Vaticano sobre a Eucaristia, o primeiro grande sinal a salientar – e que todos experimentamos ao participar – é a assembleia; sendo que é nela que se vivem todos os outros sinais. Afirma o Concílio: “a principal manifestação da Igreja é a participação plena e activa de todo o povo santo de Deus nas mesmas celebrações litúrgicas, especialmente na mesma Eucaristia” (SC 41).

Assim, a assembleia eucarística é sinal da comunidade cristã – o Corpo de Cristo, no qual não há lugar para privilégios nem privilegiados. São Paulo lembra-nos: “todos vós sois filhos de Deus…; pois todos (…) fostes baptizados em Cristo… Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus (Gal 3,26-28).

A Eucaristia coloca-nos assim em relação imediata com homens e mulheres que não escolhemos e talvez nem sequer gostemos, mas que são membros de pleno direito da mesma assembleia. Na Missa, todos nos tornamos irmãos, pois não nos escolhemos nem os escolhemos; em Cristo, todos nascemos para a comunhão com todos.

A relação íntima que existe entre a comunidade eclesial e a Eucaristia significa que a nossa forma de celebrar depende, em muito, do modelo de Igreja que interiorizámos. Tal como a Missa tridentina corresponde ao modelo de Igreja elaborado no Concílio de Trento, assim também os princípios da reforma litúrgica do II Concílio do Vaticano são o reflexo da sua imagem de Igreja. Por isso, muitas das tensões sobre a liturgia nos nossos dias explicam-se pelas diferentes visões de Igreja que lhe estão subjacentes.

Um exemplo: o Missal de Pio V (1570), seguindo o Concílio de Trento, diz: “Preparado o celebrante, este vai para o altar…”. O Missal de Paulo VI (1969) diz: “Reunido o Povo, o sacerdote com os ministros vai para o altar…”. O actual Missal sublinha imediatamente que a celebração da Eucaristia é acção de toda a comunidade cristã.

Concluindo: assim como a assembleia litúrgica manifesta a Igreja, também esta se revela pela participação dos seus membros na acção litúrgica, ao exercerem a multiplicidade e especificidade das funções que lhes são próprias. (continua)

P. Armindo Janeiro

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