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Sexta-feira, Março 29, 2024

O NATAL DEVERIA SER NOS DIA 5 DE JANEIRO DE CADA ANO

Eu gostava que o Natal mudasse do dia 25 de dezembro para, por exemplo, o dia 5 de janeiro. Ou seja, no dia anterior à Epifania. Claro que exigiria liturgicamente, também, que se mudasse o dia dos “Santos Inocentes (28 de dezembro) e que lembra a matança histórica de Herodes, na tentativa de liquidar o pretenso “Rei dos Judeus”, e o dia da Circuncisão que, a par de outras comemorações, se celebra também no dia 1 de janeiro.

E porquê mudar o dia de Natal?

Simplesmente para, nos tempos modernos, voltar a colocar o Deus que nasceu para a humanidade, no centro da festa.

O dia 25 de dezembro já é uma festa pagã; talvez a mais pagã de todas as festas no ano, a qual, nem o dia das bruxas, nem o carnaval, nem outras afins, conseguiram ainda suplantar. Hoje, no Natal, para a grande maioria das pessoas (mesmo nos países onde maioritariamente a população se declara de raiz Cristã), já quase não é o nascimento de Cristo que se celebra. Por outro lado, muitos milhões de pessoas, em países cuja tradição não é a Cristã, celebram também o Natal.

Mas que Natal?

O dia 25 de dezembro, na realidade, era uma festa pagã. Próximo deste dia, acontece todos os anos um fenómeno cosmológico local (entre a terra e o sol), a que se chama “solstício do inverno”. É o dia em que a terra atinge, no seu movimento de translação, o ponto mais afastado do sol e, portanto, temos as temperaturas mais baixas, e o dia é o mais pequeno do ano. Este fenómeno sempre teve um grande impacto na vida e na cultura dos povos antigos.

Nos territórios do império romano, celebrava-se por estes dias o “Dies Natalis Solis Invicti”, festa em homenagem ao deus sol invicto; e também a “Saturnália”, em homenagem ao deus saturno.

No sentido de tentar minimizar a festa pagã, atribui-se ao Papa Júlio I, no séc. IV, a fixação do dia 25 de dezembro como a celebração do nascimento de Jesus Cristo. Há, contudo, indícios de que já no ano de 330 se celebrava nesta data e, por isso, o Papa apenas a terá oficializado. Porque a data real, não se conhece, inclusive, um padre do sec. II refere mesmo que havia diversas tradições sobre a data do nascimento de Jesus.

Concluímos que, eventualmente, a data de 25 de dezembro, mesmo seguindo tradições, foi também assumida com um sentido prático: o de competir com um tempo de celebrações pagãs, para que os cristãos celebrassem a sua própria e grande festa, e não se misturassem e incorporassem nas suas antigas práticas pagãs.

Ora, hoje, talvez tenhamos de inverter a situação, dado que o Natal, como se disse atrás, já é mais pagão do que cristão.

Hoje, os símbolos Cristãos foram substituídos de novo por símbolos pagãos, sobretudo ligados ao comércio, ao consumo e a tradições não cristãs.

Até mesmo do “pai natal”, cuja origem se atribui a um bispo cristão de origem grega, S. Nicolau de Mira, que viveu na Ásia Menor (sec. IV), homem muito solidário, só devem ter restado as barbas brancas e algum vermelho da sua vestimenta de bispo, porque tudo o resto, está mais que paganizado. A tradição do pai natal terá sido levada para os Estados Unidos pelos irlandeses, com o nome de Sinterklaas, que os americanos, por corruptela terão transformado em Santa Claus. E, na tradição moderna, vem do norte da europa, das zonas árticas geladas (o que, como já sabemos, não corresponde). Um poema escrito no final do séc. XIX e depois decorado e personalizado à medida pela Coca Cola a partir da década de 1920, fizeram o resto da criação do boneco que hoje se adora no natal.

Também a árvore de Natal é um símbolo pagão, nascido numa tradição nórdica Jól que decoravam e iluminavam uma árvore no solstício do inverno, e que terá passado para adereço do natal a partir do séc. XIV, tendo consolidado definitivamente como decoração de natal, no reinado da rainha Vitória, em Inglaterra, no final do séc. XIX.

Hoje a parafernália de consumo, presentes, iluminação, decoração, comida, símbolos e ícones, praticamente tiraram da cena a figura de Jesus Cristo. Já é muito reduzido, mesmo até entre os cristãos, o verdadeiro sentido do Natal. Já não se faz a festa pelo nascimento de Jesus Cristo. E os povos que não seguem o cristianismo, também já vão celebrando o natal, em nome do consumo, da pressão do marketing e, vá lá, vão colocando no meio algum sentimento de amizade, de solidariedade e de ternura, mas que não é, nem corresponde a nenhum verdadeiro sentido do verdadeiro NATAL.

As igrejas CRISTÃS não têm sido capazes de estancar esta pressão pagã e, nesta altura, parece impossível de reverter a situação, de recolocar o verdadeiro motivo e sentido do NATAL, nem mesmo entre os cristãos.

Então, a sugestão é a de que “a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”… provavelmente não será de todo eficaz continuar a pelear com o paganismo nesta matéria. Deixai-os sozinho às voltas com os pais natais e a confusão nada compatível com o acto maravilhoso na história do mundo, que é a singeleza do nascimento de uma Criança que trouxe a esperança à humanidade, que ensinou a verdade, a simplicidade, a alegria, tudo aquilo que, geralmente, o natal hoje não pratica.

Mudemos a data.

Celebremos o natal fora dessa confusão, numa festa em que, de facto, possa ser devidamente festejado pelo que representa.

Luís Matias, ASDL

4 thoughts on “O NATAL DEVERIA SER NOS DIA 5 DE JANEIRO DE CADA ANO

  1. Isto é o que se chama remar contra a maré, apesar de ser verdade tudo o que é dito pelo Matias. É que por essa lógica deveríamos mudar todas as festas cristãs, o carnaval, o coelhinho e as amêndoas da páscoa, os balões do S. João, os banhos na Assunção de Maria, etc, etc, etc.
    Fará algum sentido a vontade do Papa Francisco de tentar a celebração no mesmo dia das principais festas por todas as expressões cristãs. Tudo o resto é chover no molhado e querer desfazer séculos de cultura cristã impregnada no coração ( cada vez mais na derme…) do povo ocidental e ocidentalizado. O capitalismo, tal como todas as ideologias, procura tirar proveito dos desenvolvimentos técnicos e dos estudos da Psicologia Aplicada. Quem quer ser cristão autêntico , sê-lo-á apesar do ruido á sua volta. Apesar de tudo continua a haver muitos “desertos”( mesmo no meio da buliçosa multidão) onde nos poderemos refugiar.
    Um Santo,Feliz e Alegre Natal, caro Luís Matias

  2. Hoje neste mundo tão materialista em que vivemos, nesta sociedade consumista, qualquer data, seja ela do Natal a 25.12 ou 5.01, seria “engolida” por esta sociedade e tornar-se-ia no mesmo.
    Isto não tem emenda!
    Desejo-lhe um SANTO E FELIZ NATAL e que a PAZ no Mundo seja alcançada, nomeadamente com o terminar da guerra na Ucrania. Um abraço.

  3. Naturalmente que o texto é apenas uma provocação; Mas uma provocação fundamentada numa razão: a práxis!
    Sabendo que a data é, em princípio imutável; e sabendo que, se mudássemos a data, o “carnaval” desta festa, mudaria com ela (provavelmente aproveitava até as duas datas ou, sendo próximas, alargava a farra), não pude deixar de vazar aquilo que cada vez mais sinto deste folclore, colocando um pouco de história, que também é cultura. Como sinto e sei, que muita gente me acompanha neste sentimento, pensar no assunto, só por si, pode ajudar-nos, como uma pequena areia, ou um pequeno grão, a infletir um pouco para o verdadeiro sentido da festa. Não vivo a cena como uma catástrofe, até porque haverá um plano maior para os desígnios do mundo e do universo, mas chamar a atenção para a “flacidez” dos princípios de uma comunidade, de um tempo, de um período da história da humanidade, mesmo que seja uma pequeníssima “mordidela” local, sinto que vale a pena. Por isso, ainda não altero a pequnina metáfora que é este texto.

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