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Sábado, Julho 27, 2024

REFLECTINDO SOBRE A ASSEMBELIA SINODAL

Um forte aguaceiro desabou enquanto abastecia de combustível o veículo que me haveria de transportar aos eventos que a UASP – União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses havia programado para o dia 10 de fevereiro de 2024, na cidade dos arcebispos. E não consegui livrar-me do mal, do bem em termos coletivos, diga-se, tal a intensidade das escorrências que me apanhou, literalmente, com a mangueira na mão.
Como por magia, há tanto tempo que não a recordava, ressuscitou no meu espírito a D. Palmira, uma mulher bastante arredondada, muito afável e competente no seu mister de ama de um sacerdote que me albergou no início da minha vida profissional, mas que não se furtava a prever o tempo.
Afirmava que o mês de fevereiro não era de fiar e que, mesmo com algum sol, deveria providenciar um chuço sempre à mão, de prevenção para súbitos aguaceiros! Tinha razão.
Constata-se que, de facto, o tempo já não é o que era, embora fevereiro esteja a cumprir a tradição quanto a humidades e, talvez por isso, tendo a crer que sim, a assembleia-geral da UASP e a conferência que a precedeu, esteve menos participada em termos de membros com poder de representação, que não de pessoas, ou não fosse a ASSAB a anfitriã, uma associação de antigos seminaristas com muita militância.
Mais ou menos à hora prevista para o início dos trabalhos, foram agraciados os participantes com as boas-vindas do Presidente da Direção da UASP e, após a sua introdução, foi dada a palavra ao Padre Carlos Nuno Vaz para nos falar da assembleia sinodal do passado mês de outubro.
Mesmo não tendo estado presente em Roma, concluiu-se que o orador está muito imbuído no percurso sinodal, tendo participado em várias assembleias congéneres ao longo do tempo. Para que os participantes pudessem acompanhar o seu percurso cognitivo sobre o assunto, em jeito de cábula, distribuiu uma folha A4 com a calendarização de todas as Assembleia Sinodais.
Começou por referir que “sem reforma da liturgia não há reforma da Igreja”, parafraseando o Papa Francisco. Recordou a sua participação em várias dessas assembleias e recordou, em particular a de 1974, que foi bem diferente da última, pois não havia mesas redondas, como agora, com dez participantes que iam variando de dia para dia e o Papa sentava-se numa delas.
Naquele tempo, não houve representação de Portugal, nem se falava ali português, não havia telemóvel, nem internet, resultando numa compreensão mais difícil e também num trabalho mais árduo para os jornalistas como ele. As conferências diárias acabavam às 15,30 h e às 17 h tinha de enviar a sua crónica para o Jornal de Notícias. Recordou que então os trabalhos eram acompanhados por jornalistas e jornais de grande nomeada, como o Jornal ABC de Espanha, Le Figaro e o Le Monde, franceses, entre muitos outros. Na última assembleia, sublinhou, estiveram presentes quatro teólogas espanholas.
No encerramento da sessão de outubro último, o Papa afirmou que “A igreja é o santo povo fiel de Deus”: “se queres saber como a Igreja crê, vai ao povo fiel de Deus”, mais do que aos bispos e ao próprio Papa.
Diz também o Papa Francisco que a fé é transmitida em “dialeto feminino” e que “a mulher do santo povo fiel de Deus é um reflexo da Igreja. A Igreja é feminina, é esposa, é mãe”.
Contudo, por vezes, a Igreja é reduzida a um “supermercado da salvação” onde o clericalismo surge como um “chicote” que “arruína” o povo santo de Deus. Este povo, “santo e pecador”, “infalível na crença”, com tanta “paciência”, suporta “maus-tratos e a marginalização do clericalismo institucionalizado”.
Prosseguiu depois o Padre Carlos com a leitura de alguns pontos para reflexão, projetados em écran, acompanhada de alguns curtos comentários. Esses tópicos foram distribuídos pela assembleia.
Para uma melhor apreensão do conteúdo da última Assembleia Sinodal poderá ser consultado o relatório final disponível em vários sítios como, por exemplo, neste https://www.uisg.org/…/2023_10_28_POR_Synthesis_Report.pdf, apto para impressão.
Por várias vezes o Padre Carlos levantou e agitou o livro “A mística do arado”, um escrito do Padre Adelino Ascenso, missionário da Boa Nova, que escreve no prefácio “Fazendo-me acreditar na vivência de uma teologia a partir da trivialidade da vida quotidiana, uma vez que a fé do cristão não é simples adesão a uma doutrina, mas uma forma concreta de vida e de inconformista procura, aqui se reúnem fragmentos que se foram fusionando”. O recurso àquela ferramenta rudimentar é um pretexto metafórico de linguagem para aprofundar a mística do quotidiano.
Seguiu-se um momento de diálogo e partilha iniciado pelo Padre Armindo que referiu que antes, o Sínodo era para os bispos e hoje é para toda a Igreja.
Referindo-se aos jovens, o Luís Matias afirmou que “só estão fora por efeito do clericalismo”, o que colheu concordância.
Outro interveniente referiu que todo o afastamento da igreja e a falta de fé, partem um bocadinho de cada um de nós. A Igreja era o centro do mundo. Hoje falha e falhou sempre. Não é só na igreja física que se evangeliza é em toda a parte. Todos têm o dever de não serem hipócritas, de não ter vergonha nem medo. Pode-se evangelizar em todo o lado. Ocasiões não faltam.
Continuaram as intervenções e escutou-se: “Falta coragem! Discute-se futebol e política, mas quando se trata de religião, acobardamo-nos.”
Retomando então a palavra, o conferencista referiu a existência de “grupos avançados” de reflexão, mas sublinhou a importância da formação para todos, pois só assim se tem acesso ao significado das coisas. E concluiu dizendo que o “Ámen” dos fiéis no decurso das celebrações precisa de outra intensidade. Dito conforme a maioria o faz, não está em sintonia com a mensagem. É preciso convicção.
Américo Lino Vinhais
Gabinete de Comunicação da UASP

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