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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Sessão de Estudo sobre a Bíblia – Notas II

Retomando o relato do decurso da sessão formativa, interrompida após as notas sobre o período do Concílio de Trento:

  1. Depois do Concílio de Trento a Igreja calou-se: – Enquanto no campo protestante se desenvolveram estudos bíblicos de caráter científico, a igreja católica, entre 1300 e 1800, muito pouco produziu sobre a Bíblia. Foi um tempo em que a Bíblia esteve ao serviço da Teologia e não o seu contrário. Em 1678, Richard Simão faz publicar a História Crítica do Antigo Testamento, que foi violentamente atacada por Bossuet (bispo católico).
  2. O Concílio Vaticano I e o Racionalismo Protestante (Séc. XVIII a XX): – Ali se reafirmou o Concílio de Trento, sobretudo na constituição Dei Filius. Loisy e Lagrange são, por esta altura, perseguidos pelas suas ideias. A Bíblia estava então ao serviço da apologética. Propunha-se assim demonstrar a verdade da própria doutrina, defendendo-a de teses contrárias. Importante será registar uma diferença em relação ao futuro Concílio Vaticano II: neste não houve apologética, mas sim ciência, exegese.
  3. Leão XIII: – Em 1893 publica a encíclica Providentíssimus Deus, que aborda o estudo das Sagradas Escrituras. Critica os erros dos racionalistas e dos “críticos mais elevados”, e destacou os princípios dos estudos bíblicos e como as escrituras deveriam ser ensinadas nos seminários. Abordou aparentes contradições entre a Bíblia e a ciência física e como as aparentes contradições podem ser resolvidas. É de referir a importância da École Biblique de Jérusalem, um estabelecimento académico, fundado em 1890, especializado em exegese bíblica. Muita importância tem também a criação da Pontifícia Comissão Bíblica (PCB) por Leão III, em 1902, formada por cardeais e por peritos em matéria bíblica. Aliás, foi com Leão XIII que começou o movimento bíblico moderno.
  4. Pio X e o Modernismo: – Como harmonizar a Bíblia e a ciência? O Modernismo negava o Magistério e relação entre a ciência e a Fé. É neste contexto que Pio X, por temer uma revolução, publica, em 1907, o decreto Lamentabili e a encíclica Pascendi, documentos que condenam o modernismo católico. Por esta altura a Vulgata era objeto de um misto de amor e ódio. De facto, não agradava a todos.
  5. De Pio X ao Vaticano II: – Bento XV, por altura do décimo quinto centenário da morte de S. Jerónimo, publica, em 1920, a encíclica Spiritus Paraclitus dando ênfase ao estudo da Bíblia como tal, e não apenas dos Evangelhos. É uma resposta à antiga acusação protestante de não se disponibilizar a Bíblia às pessoas. De Pio XII emana a encíclica Divino Afflante Spiritu, em 1943, para responder às questões bíblicas do tempo de então e do nosso tempo, porque Dolindo Ruotolo, um padre, publicou um folheto que respondia ao PCB (A Liberdade e o Magistério da Igreja). Em 1964, surge a declaração Sancta Mater Ecclesia, sobre os Evangelhos. É então tema fundamental o sentido literal da Escritura, necessário para interpretar outros sentidos. Um ser simbólico ou mítico não peca! A Bíblia é um livro histórico, mas não um livro de história. Tem muitos géneros literários lá dentro. Os teólogos vêm depois dos que estudaram a Bíblia! Quanto aos géneros literários aponta-se para a liberdade do exegeta católico. Dever-se-á ter atenção especial ao texto que é o fundamento da exegese moderna.
  6. Do Concílio Vaticano II a Bento XVI (1965-2010): Daquele emana a constituição Dei Verbum que é a carta magna dos documentos da Igreja sobre a Bíblia. Além deste, outros documentos do concílio fundamentam-se sempre nas escrituras. Paulo VI, no após concílio, defendeu o aprofundamento do estudo das Escrituras. João Paulo II fundamentou a doutrina das suas muitas encíclicas na Palavra de Deus, mas ficou a dever à Igreja Católica uma encíclica sobre a Bíblia para comemorar os 100 anos da Providentíssimus Deus e os 50 anos da Divino Afflante Spiritu, assim como para pôr em prática a Dei Verbum. Bento XVI, veio preencher a lacuna de João Paulo II com o Sínodo ordinário sobre a Bíblia, donde resultou a encíclica Verbum Domini que ainda não deu os frutos esperados. Hoje, é indesmentível a liberdade do exegeta católico, assim como nas grandes produções bíblicas da Igreja. Contudo, a Bíblia ainda não é o nosso Livro, o Livro dos católicos. Porquê? – Porque estamos mais virados para as devoções e para os rituais do que para a Bíblia. Quando a Bíblia não faz parte dos programas das paróquias, estamos mal, pois a Bíblia é um depósito da verdade da Fé. (continua)

Américo Vinhais – Gabinete de Comunicação

2 thoughts on “Sessão de Estudo sobre a Bíblia – Notas II

  1. Concordo: a pastoral bíblica devia ser a trave-mestra de toda a ação da Igreja nas comunidades. Sem uma básica formação sobre o modo de ler a Bíblia, nunca teremos cristãos a sério, com convicções profundas. Ficará tudo no ar e a catequese cairá facilmente no esquecimento.
    A Universidade Católica e a sua Faculdade de Teologia, dirigida até há pouco pelo eminente Ptrofessor João Lourenço. faculta cursos bíblicos on-line. Os Capuchinhos de Fátima publicam várias revistas, inclusive, a Bíblica, ( 10 ou 15 Euros anuais) que são uma preciosidade pedagógica, e que tornam a leitura da Bíblia um acto de alegria e aprendizagem tão útil quanto interessante. Sou um fâ dessa gente, sábia, boa e generosa. João Lopesolopes

  2. Não foi possível participar presencialmente na “Sessão de Estudo sobre a Bíblia” como era meu desejo. Conheci o ilustre orador, frei Herculano, franciscano capuchinho, nas jornadas comemorativas dos 800 anos da presença da Família Franciscana em Portugal. Mas, a leitura das brilhantes crónicas do Américo Vinhais, aqui publicadas, ajudaram a compensar a perda sentida.
    Saudações franciscanas de Paz e Bem
    Alfredo

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