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Sexta-feira, Março 29, 2024

Sessão de Estudo sobre a Bíblia – Notas I

Foi assinalável o número de antigos alunos que a UASP – União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses logrou congregar na Casa Provincial das Irmãs do Amor de Deus, em Fátima, no passado dia 26 de novembro, em ordem à consolidação do conhecimento da origem, significado e alcance dos textos bíblicos, a que não terá sido alheia a qualidade do orador, o Rev. Frei Herculano Alves, um missionário capuchinho, originário de Fafe, com largo currículo no estudo e divulgação da Bíblia e que, dada a sua imensidão, não se elenca aqui, podendo consultar-se, v.g., em http://icm.ft.lisboa.ucp.pt/resources/Documentos/CEHR/Inv/CVs/CV_HerculanoAlves.pdf

Cumpriu-se assim mais uma etapa do Plano de Atividades da UASP atempadamente programada como uma sessão de estudo sobre as “Traduções da Bíblia para Português”.

Como habitualmente em realizações do género, a sessão começou com um tempo destinado à oração e às boas-vindas protagonizado pelo presidente da Direção da UASP, o Rev. Pe. Armindo Janeiro.

A sessão desenvolveu-se com apoio sistematizado de um PowerPoint que ajudou os presentes a melhor apreender o conhecimento transmitido, como a ciência já demonstrou. De facto, são muito mais profícuas, para os assistentes, este tipo de sessões de estudo apoiadas em imagens e textos projetados num ecrã, comparadas com as de simples transmissão de considerações verbais.

A sessão de estudo incidiu assim sobre períodos concretos da história da Bíblia que dividiu em vários capítulos ou períodos:

    1. Período Apostólico: – Engloba o nascimento do Novo Testamento (Evangelhos, Atos, Cartas e Apocalipse [NT]). Inicialmente alguns judeus convertidos questionavam a relação de importância entre Moisés e Jesus Cristo, considerando alguns que Moisés seria o ator principal e Jesus secundário, um problema que o método exegético e hermenêutico de interpretação do Antigo Testamento (AT) à luz do NT, resolveu recorrendo a harmoniacionismos, o que significa não haver contradição entre os dois grandes períodos bíblicos.
    2. Padres Apostólicos: – Foram teólogos cristãos importantes entre os Padres da Igreja que viveram nos séculos I e II, que terão conhecido pessoalmente alguns dos Doze Apóstolos, ou por eles significativamente influenciados.
    3. Padres Apostólicos e outros Padres: – Neste período foram importantes atores S. Justino (115) no combate às ideias de Marcião que, embora fosse considerado cristão, ensinava que o AT não devia ser seguido pelos cristãos por ser muito diferente dos ensinamentos de Cristo; Santo Irineu (150) que defendia a unidade dos dois Testamentos por alegoria; Orígenes (200), o maior exegeta de Alexandria e S. João Crisóstomo – entre outros da escola de Antioquia -, S. Jerónimo, Santo Agostinho e Tertuliano de Cartago. Classificou ainda como importante para este período o Cânon de Muratori que é uma cópia da lista mais antiga que se conhece dos livros do Novo Testamento. Para o cristão, a Regra de Fé resulta da combinação: Cristo – Apóstolos – Igreja e o “Cumprimento das Profecias” em Cristo.
    4. Idade Média: – Neste período, os padres limitavam-se a fazer a pregação e o ensino dos princípios cristãos recorrendo apenas aos comentários à Bíblia, situação que se prolongou até ao séc. XVIII. É importante referir que, nesse tempo, a Bíblia apenas existia em grandes organizações, como nos Paços Episcopais. É que, fazendo-se um cálculo orçamental, na baixa idade média, a preços atuais, uma Bíblia custaria tanto como hoje custa um T3 em Lisboa, o que vale por dizer, perto de um milhão de euros. Foi um tempo em que o povo cristão se agarrou às devoções e aos santos enquanto a Bíblia ficava nas mãos dos teólogos. Nesse tempo desenvolveu-se a teoria dos quatro sentidos: – literal, alegórico, moral e analógico. Os mosteiros constituíram então centros de divulgação da Bíblia a par das escolas catedralícias. Entretanto, surgem as chamadas heresias medievais protagonizadas por Valdenses e Cátaros entre outros. Mas havia outras vozes, como Wiclef e João Hus, que defendiam a interpretação individual dos escritos bíblicos sem magistério. É neste contexto que aparecem os reformadores Lutero e Calvino com os seus princípios hermenêuticos quanto à interpretação e estudo dos textos bíblicos: – Sola Scriptura (não precisa da igreja para ser interpretada); Solus Spiritus – Sola Gratia. Conclui-se assim que cada um faria a sua vida ao seu jeito! Segundo S. Paulo, é pela Fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei. Contudo afirmava que as obras da lei judaica já não serviam.
    5. Concílio de Trento: – Esta reunião magna da Igreja Católica visou uma contrarreforma às ideias protestantes que então se difundiam para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica. Ali se estabeleceu que a Igreja é o intérprete final das Escrituras. A Tradição da Igreja era igualmente critério de referência. Consolidou a ideia de que a doutrina da Igreja vem do início do cristianismo. Estabeleceu também o Cânon dos livros rigorosamente canónicos, resultando um número absoluto inferior aos que usam os cristãos ortodoxos. O concílio reafirmou ainda que a tradução para o latim feita por S. Jerónimo, a Vulgata, está conforme o texto das escrituras, ao contrário das visões protestantes de que os textos gregos e hebraicos eram mais fiáveis. (continua)

Américo Vinhais, Gabinete de Comunicação

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