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Quarta-feira, Abril 24, 2024

A invenção da esperança!

Vivemos uma situação sanitária que torna penosas as relações humanas e coloca sob suspeita todos os nossos contactos, suspendendo, por isso, a vida comunitária nas suas diversas dimensões: social, profissional, cultural e religiosa, pela possibilidade real de cada um de nós ser vítima e transmissor deste inimigo invisível…

E os que partilham o mesmo tecto, na trama das relações familiares, não deixam de ter a mesma percepção, pois não há risco zero e o vírus não se faz anunciar…, apenas podemos saber onde está ou esteve. Resta-nos limitar ao máximo as possibilidades e quebrar as cadeias de transmissão.

Pela primeira vez na história, a humanidade está toda do mesmo lado e percebe melhor que viaja no mesmo barco. O inimigo globalizou-se e nenhum de nós se pode defender ou salvar sozinho! Dramaticamente, damo-nos conta que ninguém é indiferente a ninguém, pois todos podemos ser parte do problema.

Até agora, os conflitos colocavam-nos uns contra os outros, fazendo aumentar a corrida a armas cada vez mais sofisticadas para enfrentar e destruir o outro, visto como inimigo. Nesta nova batalha, o armamento produzido de pouco ou nada serve, tornando risíveis os ódios acumulados e as somas astronómicas de dinheiro gasto!

Há, no entanto, para memória futura, uma advertência do tamanho do mundo que importa considerar atentamente: se um dia algum louco se atrever a usar armas biológicas…, ninguém ficará de fora, todos serão atingidos. Já temos a prova!

Este vírus, que não tem exército nem precisou do nosso arsenal bélico, tem um enorme poder de disseminação e conseguiu o impensável, nunca antes visto: suspendeu a vida do planeta, em múltiplas dimensões, colocando-nos a todos sob “prisão domiciliária”.

Paradoxalmente, o planeta agradeceu pela trégua que lhe demos: o ar das cidades tornou-se menos poluído, a fauna e a flora recuperam espaço, fazendo-nos ver que é possível um futuro mais saudável para todos, se cuidarmos melhor uns dos outros e da nossa casa comum. Temos de ser parte da solução.

Estamos a começar a Quaresma. Ela contém em si o convite à renovação da vida, pela identificação dos “vírus” que fazem adoecer a nossa relação com Deus, uns com os outros, connosco mesmos e com o meio ambiente: importa dar-lhes a devida atenção, pois deste trabalho urgente e exigente depende a qualidade da nossa vida pessoal e familiar, social e eclesial.

Que este tempo quaresmal nos permita confinar o que nos desumaniza, por destruir laços de confiança e solidariedade entre gerações e enfraquecer a capacidade de lutar pelo bem de todos cujo valor maior é a vida, ameaçada pela nossa indiferença e/ou egoísmos instalados, e desvalorizada pela lógica dos interesses em conflito, as ideologias dominantes e os jogos de poder.

Contudo, olhando para o escândalo da cruz, onde Cristo, vítima inocente, se entrega livremente pela Humanidade, descobrimos o amor misericordioso de Deus Pai, mais forte que a morte, pois, ao ressuscitar o seu Filho, revela ao mundo inteiro a “vacina” que nos salva e oferece, aos que n’Ele creem, o “princípio activo”, capaz de reinventar a nossa esperança e renovar todas as coisas: o Espírito Santo!

Eis o dom que Deus faz de Si mesmo aos baptizados e, de uma forma a nós desconhecida, a todas as pessoas de boa vontade para que tenham vida nova os nossos dias e dias sem ocaso as nossas vidas. Acolhamos o Dom que vamos celebrar.

P. Armindo Janeiro, ASDLeiria e Presidente da Direcção da UASP

 

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