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Quinta-feira, Agosto 21, 2025

DE CABO VERDE A TIMOR LOROSAE

Pelos céus já dantes cruzados chegámos ao outro lado do mundo! Foram precisas cerca de 20
horas a voar nas alturas e, duas vezes, descendo à terra firme, Istambul e Bali! Em razão da
acentuada diferença do fuso horário, confesso que até deixei escapar um dia da semana!…

Para escrever sobre Timor Lorosae e o seu mui nobre e invicto Povo, permitam-me que
invoque o grande Camões e lhe peça, humildemente, um pouco de “engenho e arte”.
“ Ali também Timor, que o lenho manda/ Sândalo salutífero e cheiroso/ Olha a Sunda tão larga que ua banda/Esconde para o Sul dificultoso/ A Gente do sertão, que as terras anda,/ Um rio diz que tem miraculoso, / Que, por onde ele só, sem outro vai, / Converte em pedra o pau que nele cai” (Os Lusíadas).

…Tudo começou, em 2014, por Cabo Verde. Uma pequena comunidade, em média de 20
peregrinos, caminharam juntos há mais de 10 anos! Depois, pela Guiné-Bissau, São Tomé e
Príncipe e Ilhéu das Rolas, Angola, Moçambique e, finalmente, Timor Leste! Sobrou ainda
tempo para redescobrir a Madeira e Porto Santo e as ilhas de São Miguel e Terceira nos
Açores.

Diz o poeta que é “…pelo sonho que vamos e chegamos…” E assim foi! A UASP, no âmbito do
projecto “Por Mares dantes navegados”, antes sonhado, atingiu mesmo o outro lado do
mundo, Timor Lorosae! “… Se mais houvera lá chegara…”. Cumprindo os valores e objectivos
inerentes à sua identidade e missão:
– Celebrar a Fé, vivida e comprometida nas periferias reais e existenciais, pisando o chão
escaldante das terras africanas e asiáticas, em comunhão com a Igreja pobre e missionária;
– Conhecer a história de povos irmãos, as suas tradições e manifestações culturais;
– Levar abraços de proximidade e de fraternidade, com gestos de solidariedade, ajudando a
consolidar a Esperança em dias melhores, de Paz e Prosperidade; muitos ainda a viverem em
situação de extrema pobreza.

Não foi diferente esta última viagem missionária em Timor Lorosae. Que povo acolhedor!
Pudemos sentir a proximidade das pessoas, a alegria e o sorriso cândido das crianças, as
saudações amigas e afectuosas, os gestos de humildade e simplicidade que nos marcaram
profundamente! Um povo que resistiu heroicamente à destruição e morte, aos massacres da
invasão e ocupação, durante 24 anos, da Indonésia que teve a bênção da Austrália e dos
Estados Unidos. Na visita ao Museu da Resistência e ao Cemitério de Santa Cruz lemos e
sentimos a história escrita com sangue e a “Alma de um Povo que renasceu das cinzas”. Uma
Nação jovem que se levanta à altura das suas belas e exuberantes montanhas! A resistência de um Povo “valente e imortal” que, com as armas apanhadas ao inimigo e uma vontade
inquebrantável, cantou a vitória final da Independência e da Liberdade! Para isso, deu-se a feliz conjugação do abraço entre o Tetum, a Igreja Católica (fiéis, clero e consagrados) e a língua portuguesa.

Assistiu-nos a graça da companhia do padre Noé, timorense, carmelita descalço. Foram duas semanas muito cheias, cultural e espiritualmente, colhendo a riqueza de novas experiências de vida. Uma aprendizagem que fica gravada na alma e no coração! Por terra, ar e mar, caminhos difíceis de terra solta, montanhas íngremes, sob um sol madrugador e abrasador… Aventura suavizada pela união e solidariedade de um grupo samaritano onde os mais fortes cuidavam dos mais frágeis e que se habituaram a caminhar juntos nestas longas viagens missionárias. Dili, Tibar, o enclave de Oecusse, Lifau, Maliana, Aí Pelo (antiga prisão
colonial), Maubara, Malibó, Baucau, Laleia, Manatuto, ilha de Ataúro, Beloi, Aileu e Maubisse.

Conhecemos as três dioceses. Porém, destaco o nosso encontro e acolhimento amigo e
fraterno com as Irmãs da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus; as Irmãs Franciscanas da
Divina Providência; as Irmãs Carmelitas Descalças; Irmãs Clarissas e Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima; Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres; Irmãs Canossianas, Irmãs Missionárias Franciscanas de Nossa Senhora. Demos graças a Deus pelos relevantes Projectos Sociais que desenvolvem com perfeita alegria e total disponibilidade. Vidas dedicadas inteiramente a Deus, à Igreja e aos mais pobres.

Finalmente, em modo de descanso, dois dias na estância turística de Bali (Indonésia) onde o
Criador foi particularmente generoso com a Natureza. Um guia local conhecedor profundo da
Ilha, dos seus deuses, dos costumes e tradições culturais conduziu-nos por recantos turísticos
e históricos, transmitindo, em português, os seus muitos saberes! Recomendou-nos a atenção
aos atrevidos macacos, peritos na arte do roubo de óculos e telemóveis!…. Fechámos o último
dia do nosso longo itinerário, domingo, com chave de ouro, na participação da Eucaristia.
Percorremos a pé, sob um sol impiedoso, cerca de quilómetro e meio, a distância do Hotel à
Igreja, Mas valeu a pena! Os fiéis eram chamados pelo rufar dos tambores. Um templo amplo
e pleno de luz que nos acolheu fraternalmente, estrangeiros, cedendo-nos o conforto dos
melhores lugares nos cómodos bancos da Igreja. A celebração, no maior país de religião
muçulmana, encheu-nos a alma! A alegria, os cânticos, a harmonia litúrgica dos acólitos, a
clareza dos leitores, a dança sincronizada no ofertório, a distribuição da sagrada comunhão
pelos leigos, a bênção final pelo celebrante, às crianças e bebés ao colo dos pais, tudo sem
pressa! Prática e cultura religiosa ausente na maioria das nossas paróquias.

E na manhã do dia 28, depois de tantas horas, a tentar dormir às prestações, a cerca de 12 mil
metros de altitude, aterrámos felizes, em Lisboa, em trânsito para Fátima, o nosso ponto de
encontro…

Alfredo Monteiro (AAAFranciscanos)

One thought on “DE CABO VERDE A TIMOR LOROSAE

  1. A MISSÃO, sendo também feita por estes testemunhos, repletos de gestos de solidariedade, embalados pela pena do PIETA,está em marcha e só anseio que as sementes transpostas deste lado do mundo floresçam frondosamente. Face à qualidade do texto, onde transparece o realismo das vivências que cada um dos participantes trouxe de Timor Lorosae no coração de mensageiro, dou os parabéns ao Alfredo, companheiro dos Colégios Franciscanos e Presidente da Associação dos Antigos Alunos dos Colégios Franciscanos de que também fiz parte. Abraço fraterno e Amigo Alfredo, extensivo à Direcção da UASP

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