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Domingo, Abril 28, 2024

IV – NA TERRA DA BOA GENTE – INHAMBANE (Parte 3)

POR MARES DANTES NAVEGADOS
6ª EDIÇÃO – MOÇAMBIQUE

IV – NA TERRA DA BOA GENTE – INHAMBANE
(Também é lugar de mártires)

Parte 3

O dia seguinte, era o de deixarmos mais um lar do coração, o Centro de Promoção Humana de Guiùa. Era Domingo e, logo pelas 8 da manhã, participámos e também fizemos festa na missa dominical, na igreja paroquial ali mesmo, com a comunidade do Centro e da paróquia de Guiùa.

Mais um soberbo momento de alegria e partilha, de fé, de música, de comunidade. Crente, ateu ou indiferente, ninguém pode ignorar um acto desta dimensão e natureza. Próximo do final da celebração, o nosso grupo foi apresentado à comunidade, como sempre aconteceu, e se desde o início sempre nos sentimos acolhidos como parte da família, nestes momentos, temos a confirmação absoluta.

E iniciámos o caminho de volta para Maputo, agora vendo e absorvendo sofregamente a parte da paisagem que antes passámos de noite. Sempre nova, sempre bela, preenchendo na totalidade as nossas europeias fantasias para paisagens tropicais. Para não perdermos muito tempo, quisemos fazer almoço em piquenique, antecipadamente providenciado em Guiúa.

Galgados quilómetros e horas, bastas vezes incomodados pelos controles da polícia, fez-se hora de almoço. Pensámos ir ao mato, a local conhecido de um dos nossos motoristas, o Melito, rapaz a quem nos afeiçoámos profundamente e, passados uns bons solavancos de picada, decidimos voltar à EN1 e procurar sítio mais prático.

Parámos mesmo numa povoação, junto da EN, talvez Quissico, num café esplanada tradicional, perguntámos à dona se tinha a desejada e fatal Laurentina, e à resposta afirmativa, pedimos-lhe permissão para utilizarmos a sua esplanada para refeição ambulante, contra o consumo desse precioso líquido, ao que ela simpaticamente anuiu sem qualquer problema.

E ali nos refastelámos a manducar tranquilamente o suporte das nossas energias para as próximas horas. A dona, bem disposta, ficou todo o tempo a conversar connosco, conversa que expandiu para as esplanadas da vizinhança, e nós, sempre a aprender com eles.

Depois de ali mesmo, na rua, reforçarmos o nosso abençoado saldo de internet, seguimos o nosso caminho rumo a Maputo. Constatámos a nossa ultrapassagem sobre o mítico “Trópico de Capricórnio”, pelo menos a julgar pela grande placa de identificação a assinalar um dos locais onde passa esta imaginária linha, importante divisão da terra – paralelo – o trópico do hemisfério sul (é uma das cinco linhas transversais de divisão da terra: dois círculos polares; dois trópicos e o equador).

E já no espaço algures entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Polar Antártico, haveríamos de ter ainda neste dia mais uma já esperada e, depois concretizada surpresa. Fomos neste percurso convidados para jantar em casa de um amigo português que, até então era apenas um amigo virtual.

Ele foi-nos recomendado como contacto para nos apoiar em todas as nossas necessidades cambiais, mas sempre falámos por telefone e nada mais. Quando finalmente marcámos encontro só para nos conhecermos, porque íamos passar próximo de sua residência, fomos inusitadamente convidados a jantar em sua casa: «- Mas olhe que nós somos 21.», «- Não tem problema, jantam todos aqui.»

Marcámos o local do encontro onde chegámos já bem de noite, numa estação de serviço. O Fernando, industrial do norte, já nos aguardava e conduziu-nos à sua espaçosa e generosa mansão, junto às instalações da sua indústria moçambicana.

No alpendre do seu logradouro em U, fechado ao fundo com um muro da altura do edificado, com 8 quartos de hóspedes e o alpendre frente à casa principal, estava já posta a comprida mesa com outras de apoio ao lado, e com a churrasqueira ao fundo. No meio do logradouro, uma elegante piscina bem decorada, iluminada, com motivos esculturais e naturais no topo do lado de lá, ladeada por um cuidado relvado e por algumas plantas tropicais. E ali poisou a nossa vasta comitiva, a acrescentar a alguns seus amigos e colaboradores que já nos esperavam.

Ardia ali próximo do nosso sítio, num enorme recipiente metálico, uma faustosa fogueira que afugenta os perigosos transeuntes alados da noite, fornecendo ao ambiente tranquilidade e segurança.

Bem… foi-nos servido um farto jantar de marisco de todos os tipos e feitios, e com generosos tamanhos, entradas deliciosas, tudo regado com excelente vinho português, directo de produtor, e uma mesa de sobremesas de fazer crescer água na boca, mesmo depois de já não caber mais nada. Comemos muito bem em Moçambique, mas aqui… chegámos aos píncaros gastronómicos. Foi soberbo. Só me ocorreu a frase cantilena que em ocasiões soberanas o nosso Pe. Armindo Janeiro larga para metaforicamente explicar tudo: “Heróis do mar”…

Sem palavras para adjectivar a recepção mas, sobretudo, a disponibilidade franca e amiga com que um até aqui desconhecido nos brindou. A nossa gratidão, para o gesto e para o conteúdo, não tem tamanho.

Mas não acabou por aqui. No final do excelente convívio que aconteceu espontaneamente, onde a guitarra habitual do grupo foi culpada pelo desfile de canções e poemas, fomos notificados por intimação obrigatória, que teríamos de voltar lá para jantar, na véspera do regresso a Portugal. E com essa promessa, galgámos os escassos quilómetros que nos faltavam até ao outro lado de Maputo, a nossa Laulane, que pela quarta vez (numa só) nos acolhe já fora de horas, para dormir.

Não vos quero revelar que, “fora de horas”, significa que o Pe. Tavares poderia já estar a dormir e o portão fechado. E pior… o feroz cão de guarda que durante a noite vigia todo o perímetro intramuros, poderia estar solto, como habitualmente a partir das 22 horas. No já alto e quieto ambiente noturno africano, fomos forçados a bater, a chamar… enfim, a fazer um banzé desproporcionado e o Pe. Tavares não havia maneira de aparecer. Mas o cão também não, o que quer dizer que ainda estaria fechado. Estava o Pe. Simão Pedro, já pronto a galgar o portão, aparece então o nosso anfitrião, meio estremunhado, e lá veio franquear o acesso. O Simão, que é da casa, conta-lhe sumariamente os esforços quase infrutíferos para entrar, ao que o Pe. Tavares lhe respondeu surpreso: «- Mas bastaria tocarem a campainha! …» (sem comentários!!!). (Continua)

Luís Matias (ASDL)

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