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Quinta-feira, Março 28, 2024

São José: Esposo, Pai e Padroeiro

O Papa Francisco determinou que o ano de 2021 fosse o Ano de São José e, cumulativamente, da Família, devido à ocorrência dos 150 anos da proclamação de São José como Padroeiro Universal da Igreja (Papa Pio IX). Recordo também que o Papa Pio XII instituiu a festa de São José Operário, em 1955, a celebrar no dia 1 de Maio (dia do trabalhador instituído pela Internacional Socialista em 1889).

Conhecemos muito pouco da vida de São José, pois os evangelhos directamente pouco nos dizem da sua vida, embora nas entrelinhas possamos intuir muitas coisas. Dos quatro evangelistas, só São Mateus e São Lucas o referenciam, mas sem relatar nenhuma das suas palavras. É o homem do silêncio. Deus comunica com ele só em sonhos e através dum anjo. Estes dois evangelistas, nas suas genealogias de Jesus, referem o pai de São José, embora não sejam unânimes em relação ao seu nome: Jacob/Eli: “…Matan gerou Jacob e Jacob gerou José, esposo de Maria, do qual nasceu Jesus, que se chama Cristo” (Mt 1,16). O evangelista recorre ao género literário das genealogias para mostrar que Jesus, sendo considerado o Messias pela comunidade cristã, enraizava a sua ascendência nos principais depositários das promessas messiânicas (Abraão e o rei David).

Já Lucas (3,23-38) faz remontar a origem de Jesus ao próprio Adão, cabeça da humanidade: “Ao iniciar o seu ministério, Jesus tinha cerca de trinta anos. Supunha-se que era filho de José e este de Eli e assim sucessivamente…de Set, de Adão, de Deus”. Ambas as genealogias referem São José que, sendo apenas o pai legal de Jesus, era o suficiente para lhe conferir os direitos de herança (neste caso a linhagem davídica) – cf. Gn 49,1-33 (bênção de Jacob aos seus filhos, no leito da morte); 2 Sm 7,1-16 (promessa de bênçãos para a dinastia de David).

Mateus, no mesmo capítulo, recorda que José estava desposado com Maria, mãe de Jesus (v. 18) e que “sendo um homem justo”, ao reparar na gravidez de Maria, sem terem ainda coabitado, ficou muito perplexo e perturbado, não compreendendo o que se estava a passar, mas esclarecido por um anjo em sonhos recebeu Maria em sua casa (v. 19-24). Na visita dos Magos é estranho que o evangelista não refira o nome de José: “Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando em casa, viram o menino com Maria sua mãe” (Mt 2,10-11). Na fuga para o Egipto e no regresso já o evangelista valoriza o papel de São José: “Depois de partirem (os Magos), o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: ‘levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar” (Mt 2,13). Passado algum tempo morreu Herodes e o anjo apareceu novamente a José informando-o de que já podiam regressar para Israel, fixando-se em Nazaré (cf. Mt 2,19-23). São Mateus não volta a falar de São José.

O evangelista São Lucas recorda São José aquando do anúncio do nascimento de Jesus: “Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria” (Lc 1,26-27). Quando o nascimento de Jesus está próximo, o evangelista recorda novamente São José: “Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa de David, a fim de se recensear com Maria sua esposa, que se encontrava grávida” (Lc 2,4-5). Na circuncisão e na apresentação de Jesus no templo, em Jerusalém, Lucas não refere explicitamente São José, limitando-se a dizer: “Quando se completaram os oito dias, deram-lhe o nome de Jesus indicado pelo anjo…Quando se cumpriu o tempo da sua purificação…levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor…Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia” (cf. Lc 2,21-39). São Lucas coloca, logo a seguir, o episódio de “Jesus entre os doutores” quando atingiu os 12 anos e adquiriu o direito de acompanhar os pais nas festas tradicionais: “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa”. Quando encontraram Jesus, a mãe disse ao filho: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura…Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso” (cf. Lc 2,41-52).

A partir deste episódio o evangelista também não volta a falar de São José. Porquê? Teria morrido? Estas e outras perguntas, como por exemplo: Porque é que Deus o escolheu para esposo da Maria e que idade tinha? Já era viúvo e tinha outros filhos? Quando é que morreu? Porque é que o culto de São José é, relativamente, tardio? pedem uma resposta, mas que não é fácil de encontrar.

Como conclusão e de alguma maneira respondendo às perguntas anteriores recordo que se São José foi escolhido por Deus para esposo da Virgem Maria e pai legal de Jesus, é porque o achou o mais digno dos homens para missão tão sublime. Como defende Leonardo Boff em “São José – a personificação do Pai”: “A Trindade celeste do Pai, Filho e Espírito Santo fez-se trindade terrestre de Jesus, Maria e José, em que José personifica o Pai, Jesus o Filho e Maria o Espírito Santo”.

Padre Fernando Marques, LASÉvora

2 thoughts on “São José: Esposo, Pai e Padroeiro

  1. Caro P. Fernando
    Apreciei o artigo sobre São José com as referências bíblicas possíveis e deixando a abertura para o insondável mistério da opção divina.
    Obrigado!
    Saudações amigas.
    P. Georgino

  2. Caros amigos e companheiros, Paz e Bem

    O texto que faltava. Belo, com oportunidade e qualidade. Li e gostei. São José, o Homem bom, discreto, humilde e prudente. Operário do silêncio e sustento da família. Visivelmente activo, quando necessário, protegendo Maria e o Menino. As suas virtudes são enormes.
    Abraço amigo e fraterno
    Alfredo

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